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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Retrospectiva Eder Moraes

Eder, o ilusionista: retrospectiva do ex-homem forte de Blairo e Silval que foi condenado a 69 anos de prisão

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Eder, o ilusionista: retrospectiva do ex-homem forte de Blairo e Silval que foi condenado a 69 anos de prisão
O Olhar Direto /Jurídico publica nesta virada de ano uma série de reportagens especiais sobre os principais personagens presentes nas manchetes em Mato Grosso em 2015. Depois do ex-governador Silval da Cunha Barbosa e do ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Geraldo Riva, agora é a vez de Eder Moraes, que já foi homem forte de Silval e do senador Blairo Maggi (PMDB), este que, por sinal, também já governou o estado por dois mandatos. No entanto, os tempos são outros, Silval está detido e Eder foi condenado a quase sete décadas de prisão. Agora, o ex-apresentador do programa ‘Eder Moraes – Fatos e Versões’ sente na pele que, de fato, sua versão não convenceu a Justiça. 

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No entanto, antes de entender como Eder teria arquitetado um esquema de lavagem de dinheiro para ‘financiamento’ de interesses políticos, cuja estimativa de movimentação ultrapassa R$ 500 milhões ao longo de seis anos, é importante conhecer um pouco de sua trajetória.

Dossiê Eder

O ex-secretário de Fazenda, da Casa Civil e da Copa do Mundo veio de baixo. Não tinhas as “costas quentes”. Porém, sua ambição e seu trabalho o fizeram concretizar seus objetivos pessoais e profissionais. Moraes trabalhava no Banco Real. Em seguida, passou para a Caixa Econômica, onde se tornou sub-gerente e, posteriormente, gerente. Acabou se mudando para Rondonópolis e retornando à Cuiabá, onde também gerenciou os bancos Itamarati, BCN e Bic-Banco.

Provavelmente teria uma carreira de sucesso no ramo, se, em 2002, não tivesse sido demitido do Bic-Banco por “supostos esquemas nas contas de alguns clientes (usava o dinheiro), e também por armar um falso sequestro com a gerente Maria José (sua subordinada)” - isso de acordo com dossiê assinado pelo empresário Aldo Locatelli, em posse da Polícia Federal e Ministério Público.

Assim, acabou ficando desempregado. Mas o recomeço não tardou, e teria acontecido quando um amigo lhe apresentou ao recém-eleito governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que então lhe arrumou um emprego. De lá pra cá, sua história se tornou conhecida. Ganhando confiança e prestígio no meio político até se tornar secretário de Fazenda, da Casa Civil e da Agecopa, além de apresentador de TV.

Sua popularidade cresceu proporcionalmente à ambição de seus planos. Se por um lado, nunca foi segredo pra ninguém seu desejo de  tornar-se deputado estadual, por outro poucos sabiam de sua vontade de ocupar um outro cargo...

“Eles têm medo de (mim) Eder Moraes. Sabem que vou disputar eleição para governador em 2014. Sabem que vou dar trabalho. Sabem que sou duro na queda”, afirmou o próprio, em 15 de abril de 2013. Entretanto, devido às circunstâncias, foi forçado a abrir mão do sonho.



2015: Uma bomba para o “homem bomba”

No meio político, Eder recebeu a alcunha de “homem bomba” por seu temperamento intempestivo e por “falar além da conta”. E, coincidentemente ou não, 2015 foi explosivo para o ex-secretário.

No início do ano, em um irônico 1º de abril, conhecido como o “Dia da Mentira”, Eder Moraes foi preso após a deflagração da 7ª fase da Operação Ararath, cujas investigações o apontavam como principal arquiteto de um esquema que teria movimentado mais de meio bilhão de reais.

Ele foi detido em sua residência, no luxuoso condomínio Florais dos Lagos. E, como tem segundo grau completo, foi levado para o Centro de Custódia de Cuiabá (CCC).

Na ocasião, a PF informou que Eder teria realizado “supostas operações imobiliárias fraudulentas, com valores inferiores aos praticados no mercado, sempre em nome de terceiros (laranjas), com o notório intuito de ocultar a real propriedade e impedir o cumprimento de decisão judicial de sequestro / arresto de bens”.

Moraes já havia sido preso na 5ª fase da ação, em maio de 2014, quando permaneceu 81 dias encarcerado. No entanto, desta vez, permaneceu em cárcere durante 136 dias e, quando foi solto (em 14 de agosto), deixou a prisão com uma tornozeleira eletrônica para que seus passos fossem monitorados.

Além disso, também teve que se submeter a outras medidas restritivas, como não manter contato com os demais réus investigados, se recolher em casa durante a noite (entre as 19h e 6h), além de sábados, domingos, feriados e dias de folga.

Foto: Mary Juruna / Arquivo CMT


Eder, o ilusionista

De acordo com o dicionário Michaelis, "Ilusionista" é o “indivíduo hábil em provocar, pela destreza das mãos, ilusões tais como tirar objetos do ar, de uma cartola ou caixa vazia ou de fazer desaparecê-los sem que o espectador perceba como”.

Pois então, no decorrer deste ano Eder se mostrou um exímio ilusionista quando se trata de seus bens. Pra se ter uma ideia, em abril de 2015, uma ordem judicial determinou que fossem apreendidos R$ 100 milhões das contas de Moraes e sua esposa para ressarcimento ao erário público. Porém, apenas mil reais foram localizados e bloqueados, ou seja, 0,1% do esperado.

Na época, o delegado federal Marco Aurélio Faveri disse haver suspeitas de envolvimento de outros familiares na tentativa burlar as ordens de apreensão. E, sem especificar detalhes sobre o montante transferido ou a quantidade de imóveis, terrenos e veículos, ele declarou que havia indicativos de que a família Piran também poderia estar envolvida no esquema.

O delegado ainda afirmou que Eder fazia transações imobiliárias sempre com valor abaixo de mercado. “Ele estava vendendo terrenos em residenciais de luxo por R$ 50 mil”, explicou.

Em sua defesa, Eder alegou que seu objetivo era garantir segurança financeira aos seus familiares. E sobre a casa luxuosa que custou R$ 3.356 milhões, assegurou possuir origem lícita e até citou um prêmio de loteria (R$ 1,1 milhão), que sua esposa supostamente havia ganho, o que ajudou a quitar o pagamento do imóvel.

Posteriormente, na 8ª fase da Operação Ararath, deflagrada no dia 25 de novembro de 2015, o delegado Marco Aurélio voltou a questionar a vida ostentada por Eder, com suas mansões, carros de luxo e contas que chegavam a dezenas de milhões de reais. “Não foi achado dinheiro em suas contas bancárias e, no entanto, ele sustenta uma vida luxuosa. De onde sai isso?”, indagou-se.



Não há tornozeleira que o segure

O mistério perpetuou-se. Porém, passado algum tempo desde que foi solto (em 14 de agosto de 2015), na manhã do quarto dia de dezembro, Moraes voltou a ser preso, quando deflagrada a 10ª fase da Operação Ararath. Desta vez, Eder havia violado, 92 vezes em 60 dias, a tornozeleira eletrônica que permitia ao sistema penitenciário monitorar seus passos.

Segundo a Polícia Federal, ele deixou que o equipamento ficasse sem bateria por longos períodos. Em um deles, chegou a ficar descarregado por quatro horas e 40 minutos.

Sexta-feira, 13 – A condenação

A condenação de Eder aconteceu antes da prisão por ter infringido a tornozeleira, no decorrer da 7ª fase da Operação, numa sexta-feira, 13 de novembro de 2015. Entretanto, apesar de ferir a ordem cronológica do texto, foi deixada para o final propositalmente, simbolizando o último ato desta trágica temporada.

Ele foi condenado a 69 anos e três meses de prisão em regime fechado e ainda ao pagamento de 1.404 dias / multa. A decisão é do juiz Jeferson Schneider, da 5ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso, e compreende os crimes de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e operação de instituição financeira sem a devida autorização.

Além dele, o ex-superintendente do Bic Banco, Luiz Carlos Cuzziol, foi condenado a 31 anos de reclusão.

As profecias do Homem-bomba

Atualmente, Eder está condenado a quase sete décadas de prisão e Silval Barbosa está em cárcere preventivo. No entanto, muitos jamais imaginariam que pessoas que haviam ocupado cargos tão relevantes pudessem passar por isso, mas Eder já havia prenunciado algo parecido, em fevereiro de 2014, numa ligação interceptada pela Polícia Federal em que diz:

“Silval não me ligou. Ninguém do Palácio me ligou. Esses filhos da p. vão tomar no c. comigo, vão tomar no c. comigo... É, mas eu me coloquei à disposição da Polícia Federal para prestar qualquer esclarecimento sobre relações no Estado de Mato Grosso que eles queiram saber. É pra mandar recado pro Blairo e pro Silval, cara”, disparou, se referindo ao fato de sua casa ter sido invadida pela PF, em um mandado de busca e apreensão.

No dia seguinte, durante entrevista ao programa ‘Chamada Geral’, com Lino Rossi, Eder alfinetou: “Acho que eles (Blairo e Silval) teriam que ter a hombridade de ter me ligado. 'Companheiro, aqui é o cidadão Blairo, o cidadão Silval Barbosa. Tá precisando de alguma coisa? Houve algum problema? Conte conosco’. Porque, afinal de contas, eu cuidei do caixa dos dois. Não é assim que se trata um companheiro, deixando na beira da estrada”.

Enfim, por enquanto ainda não foi provado nada contra Silval, há apenas indícios. E quanto a Blairo Maggi, foi citado na delação do empresário Júnior Mendonça como sendo um dos beneficiários dos empréstimos fraudulentos investigados pela Ararath, mas ainda é pouco para incriminar o “rei da soja”.

Resta aguardar o desfecho dos próximos capítulos para saber se, afinal, Eder estava certo e todos sofrerão semelhante destino ou se foi apenas mais um dos blefes do "homem-bomba".



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