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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Parabéns, advogados!

Advogar é uma arte. Mais do que a técnica que se aprende nas faculdades, a advocacia requer extremada habilidade, um conjunto de competências para lidar simultaneamente com a pressão das demandas, das audiências, coordenar interesses dos clientes, entender as mentalidades judiciárias, perceber enfim todos os vetores que compõem um processo. Advogar é difícil. Para conquistar credibilidade, uma carteira estável e traquejo social, leva muito tempo e dedicação. A profissão é uma constante construção e manutenção de conhecimento e imagem. No entanto, malgrado as dificuldades, advogar é gratificante.

Comecei a advogar em casa, como milhares de outros jovens colegas. Não tinha condição de ter um escritório, porque os custos são insuportáveis para alguém que começa sem suporte, tradição ou indicação. Depois, comecei a dividir o espaço com outros colegas mais experientes e tive a felicidade de conquistar um espaço pouco explorado que era da advocacia criminal em nível empresarial. Pipocavam leis que regulavam lavagem de dinheiro, crime organizado, crimes ambientais, sonegação fiscal, apropriação indébita previdenciária, alteração nos delitos de tóxicos e outros tantos tipos penais inovadores para os padrões tradicionais.

As grandes operações policiais federais foram outra alavanca para a carreira. Quanto maior o inquérito, maiores são as probabilidades de nulidades, até mesmo pela complexidade das investigações. Surpreendentemente, em Brasília, os desembargadores federais e ministros são acessíveis e sensíveis às demandas dos advogados que reclamam contra constantes constrangimentos ilegais presentes nessas megaoperações. Os abusos são rechaçados liminarmente, sem medo de pressões da mídia local, o que aumenta a responsabilidade técnica do advogado em levar a melhor tese e promover a melhor sustentação oral.

Advocacia é, muito além do plano jurídico, comunicação. Essencialmente, advogar é saber se comunicar, seja tecnicamente, seja de forma leiga com clientes, família, amigos, alunos e jornalistas. Não consigo entender como advogados tratam mal os profissionais da comunicação, responsáveis por promover a informação de causas de alta repercussão. O advogado – assim como o promotor, o juiz, o delegado, o defensor e qualquer outro profissional ligado ao Direito – precisa perceber a importância da comunicação no seu trabalho. Já foi o tempo em que “falar nos autos” era um tabu e o advogado, juiz e promotor emudeciam-se intransigentemente.

Defender alguém importa em defendê-lo contra tudo e todos, inclusive a mídia. Todos leem blogues, sites e jornais: é impossível deixar esse flanco desprotegido. Ao contrário de fugir da imprensa, deve o advogado contribuir com artigos, análises, mantendo uma relação cordial, respeitosa e ética com todos os que estão engajados na comunicação social. Encastelar-se no escritório, além de flagrante arrogância, é prejudicial para o próprio cliente que contrata os serviços do advogado. É preciso entender que o inimigo não é o jornalista e forjar no próprio meio jurídico um protocolo de convivência nas áreas administrativa, judicial, ministerial e com a mídia.

Nessa oportunidade, gostaria de agradecer. Agradeço meus professores da Universidade Federal de Mato Grosso, os colegas docentes nas mais diversas faculdades por que passei e especialmente meus alunos que me ensinaram mais do que eu a eles. Agradeço aos comunicadores sociais, os profissionais da imprensa e os julgadores que, de forma elegante, atenderam-me como advogado e à advocacia de forma geral. Neste dia, comemoramos mais do que o dia do advogado; festejamos a democracia.


Eduardo Mahon é advogado.

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