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Domingo, 28 de abril de 2024

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Quero colocar meu tijolo

Cada pessoa é destinada a colocar um tijolo na construção do mundo. Nenhum ofício é excluído do rol dos que exigem vocação.

Observemos a conduta de coveiros no ato de sepultar seres humanos. Chama nossa atenção algumas vezes o ar de profunda interiorização espiritual revelado na face daquele ser humano que coloca na sepultura o corpo de outro ser humano. Coveiros que emprestam ritual na maneira como realizam sua tarefa têm vocação para o ato de conduzir alguém a sua última morada.

Que transtorno social uma greve de coveiros causaria. Aliás, foi o tema de um conto de Hildebrando Pafundi. A greve não ocorreu porque o fim do movimento foi decretado antes de sua deflagração, justo na véspera do dia em que, na pequena cidade onde transcorre o enredo, faleceram cinco pessoas.

Como muito bem colocou Ingrid Dalila Engel,

“Quando nosso projeto de vida é traçado, um dos pontos mais significativos é a escolha da área profissional.”

Devido às incertezas do mundo contemporâneo, os jovens enfrentam dificuldades nessa escolha.

Assentado que toda profissão requer vocação, o que é a vocação na magistratura?

A vocação na magistratura é alimentada por uma paixão.

Ser juiz não é realizar um trabalho burocrático que se resumiria em comparecer ao fórum, realizar audiências, voltar para casa levando quase todo dia processos para decidir e, no fim do mês, receber um salário que pode ser considerado muito bom, em cotejo com os rendimentos da maioria das pessoas.

Vejo o juiz como alguém cujo papel é estar a serviço. Que não ocupe apenas um cargo, mas desempenhe uma missão.

Boas leis são importantes para que o país progrida e o povo seja feliz. Mas da nada valem boas leis nas mãos de maus juízes.

A tábua de valores de uma sociedade, bem mais que na lei, está na substância moral dos aplicadores da lei.

Como ponderou Lucas Naif Caluri, vários são os requisitos éticos exigidos dos magistrados: imparcialidade, probidade, isenção, independência, vocação, responsabilidade, moderação, coragem, humildade.

Há um elenco de profissões nas quais prepondera o humanismo como horizonte inspirador. Na Magistratura e na Medicina o traço humano deve ser a estrela-guia.

Aqueles que comparecem em Juízo pedindo Justiça não são partes, como se fala na linguagem comum. São pessoas, e como pessoas devem ser compreendidas e ouvidas.

O princípio da dignidade humana deve ser a referência fundamental a orientar os julgamentos.



João Baptista Herkenhoff, 76 anos, magistrado aposentado, é palestrante Brasil afora e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

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