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OUÇA INTERCEPTAÇÃO

Ao telefone, irmão de Paulo Taques chama empresários de 'vagabundos' por envolvê-lo na Bereré; ouça

11 Mai 2018 - 17:16

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Rogério Florentino/OlharDireto

Pedro Jorge Zamar Taques

Pedro Jorge Zamar Taques

Em conversa telefônica com o empresário José Ferreira Gonçalves Neto, sócio da EIG Mercados Ltda., o advogado Pedro Jorge Zamar Taques, irmão do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques revela sua insatisfação com o envolvimento da família nos fatos relativos à “Operação Bereré”. “Aqueles vagabundos acabaram nos envolvendo”, afirma.
 
O diálogo foi interceptado pelos investigadores do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) e do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco) durante a “Operação Bereré II – Bônus”, que investiga o envolvimento de novos personagens no esquema de desvio e lavagem de dinheiro no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), na ordem de R$ 27,7 milhões. 

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No áudio, Pedro Jorge Zamar Taques queixa-se das informações trazidas pelos sócios Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, da empresa Santos Treinamentos, às investigações. “Com relação àqueles impostos né, o que acontece, eu me vi obrigado a recolher todos esses impostos em função do que aconteceu. Entendeu?”, afirmou.
 


Em seguida, Pedro Zamar foi questionado por José Ferreira Neto se o recolhimento de impostos envolvia a “Operação Bereré”, e responde: “Isso! É porque aí o ... aqueles vagabundos lá terminaram nos envolvendo né? O Roque e o Marcelo pô!”. (ouça em 1 min e 56 seg).
 
Roque e Marcelo sãos os sócios Roque Anildo Reinheimer e Marcelo da Costa e Silva, da empresa Santos Treinamento, investigada na “Bereré”. Os dois sócios confirmaram ter participado do esquema e afirmaram às investigações que o ex-secretário chefe da Casa Civil Paulo Taques teria sido contratado pela empresa EIG Mercados (antiga FDL) um dia após o resultado da eleição vencida pelo governador Pedro Taques (PSDB), primo do ex-secretário.



Defesa de Savi:

Pedro Zamar, em outro momento da ligação telefônica declara: "Nós estamos tendo acesso direto à todos os depoimentos, porque? Porque o escritório 'fomos' contratados pelo Mauro, Mauro Savi. Entendeu? Parece até antagônico a situação, mas o Mauro nos contratou, então isso nos dá a possibilidade de ter acesso a todos os depoimentos, então nós temos informações diárias do andamento, não é?".

Sobre esse trecho, o MPE chama atenção para o fato de Pedro Jorge Zamar Taques comemorar "seu escritório estar advogando para o investigado Mauro Savi (apesar de ponderar que isso é uma ‘antagônica situação’ – provavelmente pelo fato de que Mauro Savi antecedera o próprio advogado no recebimento de propina), o que lhe possibilitaria acompanhar ‘diariamente’ (nas palavras dele) o andamento das investigações.

O escritório do advocacia de Paulo Taques renunciou nesta quinta-feira (10) a defesa do deputado estadual Mauro Savi, segundo o site Ponto na Curva.

Medo de delação:

Adiante, o MPE destaca. "(Pedro Zamar) também revela em alguns momentos preocupação acerca do teor de eventuais declarações prestadas por José Henrique nas investigações e indaga obliquamente acerca da veracidade ou não de notícias veiculadas acerca de eventual colaboração premiada firmada pelo mesmo’”.

A situação refere-se ao momento em que o advogado afirma: "Inclusive o que se comentava é que 'ocê' e seu pai estariam fazendo delação".

O que Roque e Marcelo narram aos investigadores:
  
Roque Reinheimer disse que a partir de 2015 a EIG Mercados e a Santos Treinamento rescindiram a parceria, sem a assinatura dele, motivo pelo qual ele procurou Valter Kobori em Brasília para tratar do assunto.
 
“Após insistir em ser atendido pelo senhor Kobori, este mandou um representante, que apresentando-se como advogado da empresa FDL/EIG, disse que ‘eventuais prejuízos fossem tratados na Justiça e que a partir de então, todos os assuntos relacionados a empresa FDL/EIG em Cuiabá/MT fossem tratados no escritório de advocacia do chefe da Casa Civil, com o senhor Paulo Taques”, diz trecho do depoimento.
 
Reinheimer disse que questionou o representante de que forma iria iniciar uma conversa com Paulo Taques sem ter nenhum documento que indicasse que o mesmo era o novo defensor da EIG, “ocasião em que este advogado entregou-lhe uma procuração e substalecimento da EIG para Pedro Jorge Zamar Taques”.
 
Os dois chegaram a marcar uma reunião: “Ao iniciar as conversas com Paulo Taques, percebi que este ficou um pouco alterado e de certa forma acabou me intimidando, então desisti de prosseguir na conversa”, relata em outro trecho do depoimento.
 
Por várias vezes, o escritório de Paulo Taques (Zamar Taques Advogados Associados) afirmou nunca ter prestado serviços à empresa EIG Mercados ou sua antecessora FDL Serviços e que jamais receberam procuração ou substabelecimento para que assim o procedessem.
 
Paulo Taques ainda acrescentou que chegou a receber o empresário Roque Anildo Reinheimer, mas ele começou a dizer várias coisa em tom de ameaça. "Diante disso, Paulo solicitou imediatamente a presença de delegados de polícia, e quando estes adentraram ao gabinete informou-lhes o ocorrido, sendo a reunião encerrada e o Senhor Roque levado para prestar esclarecimentos", diz trecho da nota emitida à época. 

Operação Bônus
 
O ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques e o deputado estadual Mauro Savi (DEM) foram presos em ação conjunta do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) e do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco), na segunda fase da 'Operação Bereré', deflagrada na manhã desta quarta-feira (09). Além deles, outras quatro pessoas também tiveram mandados de prisão.
 
A segunda fase da 'Operação Bereré' foi batizada de 'Bônus'. Foram expedidos pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso seis mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão em Cuiabá, São Paulo (SP) e Brasília (DF). As ordens partiram do desembargador José Zuquim Nogueira.
 
A 'Operação Bônus' é resultado da análise dos documentos apreendidos na primeira fase da Bereré, dos depoimentos prestados no inquérito policial e colaborações premiadas. Tem como objetivo desmantelar organização criminosa instalada dentro do Detran para desvio de recursos públicos.
 
Bereré
 
A ‘Bereré’ é desdobramento da colaboração premiada do ex-presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT), Teodoro Lopes, o “Doia". Dentre as informações prestadas por Doia, consta suposto esquema de cobrança de propina com uma empresa que prestava serviços de gravame - um registro do Detran.
 
Na primeira fase, os mandados foram cumpridos na Assembleia Legislativa de Mato Grosso e na casa de Savi e Eduardo Botelho (DEM). O ex-deputado federal Pedro Henry também foi alvo na ocasião.
 
O governador Pedro Taques (PSDB) decretou a intervenção do Estado no contrato que o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) havia firmado com a EIG Mercados para registro dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor no Estado. A empresa foi alvo da ‘Operação Bereré’ e é apontada como pivô do esquema que teria desviado R$ 27,7 milhões.
 
Confira abaixo os alvos da ‘Operação Bônus’:
 
Mauro Savi (deputado estadual)
Paulo César Zamar Taques (ex-chefe da Casa Civil)
Roque Anildo Reinheimer
Claudemir Pereira dos Santos, vulgo “Grilo”
Valter José Kobori (empresário)
Pedro Jorge Zamar Taques (advogado)
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