O desembargador Orlando Perri, supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo (GMF-MT), fez questão de diferenciar erros de pessoas das imagens das insituições, diante das duas operações deflagradas contra as ações do Comando Vermelho em Mato Grosso entre quarta (5) e quinta-feira (6), respectivamente a ‘Ragnatela’, da Polícia Federal e ‘Caixa de Pandora’, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Dentre os alvos, autoridades políticas e públicas, lideranças da facção, advogados e agentes do sistema penitenciário.
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Questionado se o Estado não estaria perdendo a guerra contra o crime organizado, que tem atuado expressivamente dentro dos presídios, o desembargador Orlando Perri disse que os fatos revelados nas operações devem ser apurados com rigor, acrescentando que nenhuma instituição é corrompida, mas as pessoas que as integram.
Relatório da Polícia Federal que culminou na Ragnatela, desta quarta (5), revelou conversa em que, supostamente, o ex-diretor do Centro de Ressocialização de Cuiabá Wikler de Freitas Teles, teria negociado a transferência de cinco presos do alto escalão do Comando Vermelho, com intermédio de um policial penal e suposto aval do ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamente.
Além disso, a Ragnatela apontou que o vereador Paulo Henrique Figueiredo (MDB), ex-líder do prefeito de Cuiabá na Câmara, e seu assessor Rodrigo Leal, atuaram juto com membros do CV para lavar o dinheiro da facção pro meio da realização de shows de funk em bares e casas noturnas da capital.
Nesta quinta-feira (6) o Gaeco, que atua em conjunto com o Ministério Público e a Polícia Judiciária Civil, deflagrou a Caixa de Pandora. Dentre os principais alvos, quatro advogados e policiais penais que estariam envolvidos com a entrada de celulares em presídios da capital, para beneficiar os faccionados.
Segundo as informações do Gaeco, os celulares entravam nas unidades prisionais por meio dos advogados que se aproveitavam das prerrogativas. Por meio dos dispositivos, os detentos praticavam e ordenavam vários crimes extramuros. Além dos juristas, houve a participação de policiais penais.
Indagado, então, se os sustentáculos das facções não estariam corrompendo a legalidade estatal, ou, ainda, se as instituições estariam em descrédito com a população que, diante das atribuições dos investigados, ficaria sem ter em quem confiar, Perri ponderou.
Disse que, de fato, o crime organizado atua dentro do cárcere, mas ainda é o Estado quem comanda as unidades penitenciárias. “É preciso separar o joio do trigo”, afimou o magistrado.
Sobre a confiança da população nas autoridades e no aparato estatal, Perri saiu em defesa de Winkler e Bustamante: “nós sabemos, e eu atuo nisso, nós sabemos que muitas autoridades públicas são vendidas sem o seu conhecimento [...] O secretário Bustamante é uma pessoa muito respeitada, tem anos e anos de trabalho servindo a segurança pública do estado e do Brasil. Veja, eu não tenho conhecimento do que foi encontrado, da participação do Winkler, eu posso dizer que eu conheço o trabalho desenvolvido, a pessoa do Winkler é uma pessoa extremamente honesta ao meu ver, até prova em contrário, ele é inocente”, completou.
Por fim, a reportagem interrogou Perri se o sistema estaria colapsado e corrompido com o avanço das organizações criminosas às instituições estatais.
Na visão do magistrado, o crime organizado tem se alavancado por todo o país, e isso é um fato incontestável. No entanto, refutou o apontamento de que as facções estariam tomando conta das instituições. “há uma distância muito longe”, completou.