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Quinta-feira, 13 de novembro de 2025

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Taiany Franca Zimpel

Proprietária da empresa que submeteu 20 funcionários em condições de trabalho escravo é ex-miss Mato Grosso

Foto: Reprodução

Proprietária da empresa que submeteu 20 funcionários em condições de trabalho escravo é ex-miss Mato Grosso
Eleita Miss Mato Grosso (2016) e Miss MT Internacional (2024), Taiany Franca Zimpel é a proprietária da empresa T.F. Zimpel, que administra a fazenda Eliane Raquel e Quinhão, em Nova Maringá, onde operação coordenada pelo Ministério Público do Trabalho resgatou 20 trabalhadores em condições análogas à escravidão. A rotina de Taiany se divide entre os negócios da família no setor madeireiro e do agronegócio, e concursos de beleza.


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Nas redes sociais, ostenta um fã clube, fotos de drinks, looks glamurosos e as faixas de miss, bem como compartilha posts em que procura caminhões para transportar madeira e que anunciavam a venda de lenha.

Segundo reportagem do portal Brasil de Fato, o caso dos 20 trabalhadores resgatados não é o único relacionado à família Zimpel. Em setembro de 2024, um homem ingressou na justiça com uma reclamação trabalhista e ação de danos morais contra a empresa que, naquela época, estava em nome de Elton Renato Hollenbach Zimpel, pai de Taiany.

Na semana passada, a empresa T.F. Zimpel firmou acordo com órgãos públicos e se comprometeu a pagar R$ 1,6 milhão pelos danos causados aos 20 trabalhadores reduzidos a condições análogas à escravidão na Fazenda no município de Nova Maringá, a cerca de 400 km da capital. A empresa foi alvo de operação realizada no último dia 15 pelo Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Federal (PF).

Para se livrar de sanções penais e cíveis, a empresa firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho e se comprometeu a uma série de obrigações. Dentre elas, o pagamento das verbas salariais e rescisórias, que totalizaram R$ 418 mil, foi estabelecida uma compensação por dano moral coletivo no valor de R$ 1 milhão, que será destinado ao Projeto Ação Integrada – Mato Grosso (PAI/MT). A título de dano moral individual, a quantia paga foi de R$ 200 mil (R$ 10 mil para cada trabalhador resgatado).

As vítimas foram contratadas pela T.F. Zimpel Ltda. para atividades envolvendo o corte e empilhamento de madeira. De acordo com o MPT, com base nas provas colhidas, ficou comprovada a responsabilidade solidária entre a Zimpel, que recrutou e manteve os trabalhadores em condições degradantes, e os proprietários da área rural, que comercializam a madeira e se beneficiaram diretamente da exploração irregular.

A força-tarefa constatou graves irregularidades, como alojamentos precários, não fornecimento de água potável para consumo e higiene, ausência de registro em carteira e não pagamento de salários. Além disso, os empregadores não disponibilizavam equipamentos de proteção individual e coletiva para a execução dos serviços. Houve, ainda, relatos de intimidação por pessoas armadas e restrição da liberdade de locomoção.

Precariedade

As condições de higiene e conforto eram precárias, segundo apontou a equipe de fiscalização. Em um dos barracos de lona e madeira utilizados como alojamento, um grupo de 13 trabalhadores dormia em camas improvisadas – em colchões velhos e sujos sobre tábuas e toras. Não havia piso e o chão era de terra batida.

Além de sujo, o local não possuía armários para a guarda dos pertences, os quais ficavam espalhados pelo chão ou pendurados. Em outro alojamento, as vítimas dormiam em redes, sem ventilação, e dividiam espaço com tambores de óleo e combustíveis, acentuando o risco de incêndio.

Os trabalhadores tomavam banho em um córrego com água turva, sem nenhuma privacidade, e muitos faziam as necessidades fisiológicas no mato, a céu aberto. A água para beber era imprópria para consumo humano, retirada de poços e áreas alagadas, contaminada e sem tratamento.

O preparo de refeições era feito por meio de um fogão também improvisado, construído com tijolos no chão. Da mesma forma, não havia refeitórios ou local adequado para conservação dos alimentos. A alimentação era escassa e inadequada, com relatos de que os trabalhadores estavam passando fome, sobrevivendo de açaí e caça de animais silvestres.

Providências

O procurador do Trabalho Gustavo Rizzo Ricardo, que acompanhou a operação, explica que restaram configurados todos os elementos caracterizadores da redução de trabalhadores à condição análoga à de escravo.

Como resultado da operação, os responsáveis firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o MPT. No documento, tanto os proprietários da Fazenda Eliane Raquel e Quinhão quanto a empresa F. Zimpel Ltda. se comprometeram a cumprir uma série de obrigações de fazer e não fazer, sob pena de multa no caso de serem constatadas novas violações de direitos.

Paralelamente, a Auditoria-Fiscal do Trabalho emitiu as guias de Seguro-Desemprego Especial do Trabalhador Resgatado, que dão a cada uma das vítimas o direito de receber três parcelas de um salário-mínimo. Serão lavrados, ainda, os autos de infração correspondentes às irregularidades constatadas.
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