Apartamento de R$ 3 milhões em Cuiabá em nome da filha, diversas empresas no mesmo nome e R$ 7 mi no exterior: relatório da Polícia Civil, proveniente da Operação Suserano, aponta que o empresário Alessandro Nascimento, acusado de liderar suposto esquema de R$ 28 milhões, teria constituído uma rede de empresas para dissimular a origem dos montantes que ele movimentava, provenientes de termos firmados com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar – SEAF, especialmente relacionadas à aquisição de kits de ferramentas rurais. Para “lavar” o dinheiro, inclusive, ele teria um contador nos Estados Unidos da América (EUA), onde tem investimentos financeiros em empreendimentos imobiliários.
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Entre os principais alvos da ação estão o ex-secretário de Agricultura Familiar, Luluca Ribeiro, e Alessandro do Nascimento, um empresário que, com a ajuda de "laranjas", incluindo sua filha Ana Caroline Ormond, teria movimentado quantias milionárias no esquema.
Conforme a Inteligência Financeira da Polícia Civil, o caminho percorrido pelo dinheiro, ao ser imediatamente recebido pelo Instituto de Natureza e Turismo Pronatur, que firmou os termos com a Secretaria para aquisição dos kits, tem como destinatário final, de forma recorrente, Alessandro do Nascimento, bem como a investigada Ana Caroline Ormond, sua filha.
A investigação, então, conseguiu traçar o trajeto dos milhões movimentados, que passavam pelas empresas Tubarão Sports (Tubarão Comércio de Serviços Eireli), Tupã Comércio e Representações, Ribeiro Comércio e Serviços Ltda, Frontline Distribuidora Importação e Exportação e Alessandro do Nascimento – ME, todas vinculadas a Alessandro.
Verificou-se, ainda, a ocorrência de uma soma considerável de saques em espécie, no período entre abril de 2022 e junho de 2024, durante a vigência dos Termos de Fomento firmados pelo Pronatur, totalizando aproximadamente R$ 4.4 milhões, levantando suspeitas da prática de lavagem de dinheiro.
Tais saques eram realizados logo após o recebimento dos recursos pelo instituto, sendo que outras empresas também teriam efetuado saques após receberem valores da empresa Tupã Comércio. Somente no período entre janeiro e junho de 2024 — intervalo em que os Termos de Fomento entre o Pronatur e a SEAF estavam em plena ascensão — a empresa Tupã Comércio transferiu o montante de R$ 2.3 milhões.
Apartamento em nome da filha e contador nos EUA
Diante das quantias vultuosas que movimentou, Alessandro precisou a recorrer a outros métodos e países para dar aparência de legalidade aos milhões: segundo a operação, ele possui investimentos e empreendimentos imobiliários nos EUA, inclusive com um contador.
Durante a deflagração da Suserano, em 24 de setembro de 2024, os agentes apreenderam diversas anotações em cadernos relacionadas às empresas investigadas, emissões de notas fiscais e demais ajustes financeiros. No interior de uma caixa entregue por Edmar na Delegacia, foram encontrados documentos de destaque para a investigação.
Primeiramente, um contrato de um imóvel comprado em Cuiabá (Edifício Apogeo, Bairro Goiabeiras) no valor de R$ 2.985.000,00 em nome de Ana Caroline Ormond Sobreira Nascimento, filha de Alessandro. Para financiar parte do imóvel, Ana Caroline declarou renda de R$ 60 mil, o que contradiz seu pró-labore de R$ 9.723,78 da empresa Tubarão, e a existência de um holerite de março de 2024 que não condiz com seu período de trabalho e estudo na Disney, nos EUA.
Comprovantes de pagamento à empresa Plaenge para o imóvel foram encontrados, bem como documentos de aquisição de móveis planejados para o mesmo, no montante de R$ 560.000,00, em nome de Alessandro do Nascimento, cujos comprovantes de pagamento estavam em nome de três empresas, incluindo a Tupã.
Em outubro 2024, após a deflagração da Operação Suserano, Alessandro celebrou um Instrumento Particular de Cessão e Transferência de Direitos do imóvel, tendo Ana Caroline como cedente e ele próprio como cessionário, o que sugere simulação do negócio jurídico inicial e o uso do nome da filha para proteger seu patrimônio; após a cessão, Alessandro registrou o imóvel em seu próprio nome em 17/10/2024.
Em segundo lugar, foi encontrado um Termo de Confidencialidade e Sigilo referente a “investimento financeiro em empreendimento imobiliário” realizado com a empresa americana Quick Realty (18 Homes LLC), sediada na Flórida, EUA. Este termo, datado de agosto de 2024, tinha como partes Alessandro do Nascimento, sua esposa Herley Cristina Ormond Sobreira Nascimento, e a 18 HOMES LLC, representada por Tiago White Bueno da Silva.
Segundo as investigações, o objetivo era evitar a divulgação e utilização não autorizada de informações confidenciais trocadas para o investimento, com uma multa de US$ 30.000,00 (mais de R$ 180.000,00) em caso de quebra de confidencialidade. Sugere-se que Tiago White Bueno da Silva possa ter atuado como intermediário para que Alessandro transferisse valores do Brasil para imóveis nos EUA, indicando possível lavagem de capitais, pois o período (2024) coincide com a vigência e expansão dos Termos de Fomento firmados entre o Pronatur e a SEAF.
Em terceiro lugar, foram localizadas anotações manuscritas indicando o planejamento para a aquisição de imóveis e utensílios domésticos em Orlando, EUA, no empreendimento “Westhaven at Ovation”. Os valores em dólar dos imóveis destacados totalizam US$ 1.181.528,00 (US$ 596.706,00 para Rinker Elite Cr e US$ 584.822,00 para Autumn Elite F), e anotações como “50k” sugerem um depósito inicial de 5% (US$ 59.076,40), indicando um plano para a aquisição de dois imóveis nos Estados Unidos.
Convertendo esse montante para reais, considerando a cotação de R$ 6,00 por dólar, o valor total seria de R$ 7 milhões. Por fim, as anotações de Alessandro do Nascimento também apontavam a existência de um contador nos Estados Unidos.
