A defesa de Antônio Gomes da Silva, que confessou ter executado o homicídio do advogado Roberto Zampieri, está questionando a condução da investigação policial e novas provas que evidenciariam pelo menos outras três linhas investigativas – as quais teriam sido ignoradas. No documento, o advogado Felipe André Laranjo, sustenta que há um erro grave de origem: a exclusão precoce da investigada Maria Angélica Caixeta Gontijo do caso, apesar de, segundo ele, existirem provas concretas que a ligariam ao crime.
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Em fevereiro de 2024, o juiz Wladimir Perri, então titular da 12ª Vara Criminal, onde tramitam as ações do caso, agora sob sigilo, anulou as medidas cautelares aplicadas à Maria Angélica. Ela chegou a ser presa sob suspeita de ser a mandante do assassinato, mas foi solta por falta de provas em janeiro.
Posteriormente, uma nova linha de investigação foi aberta, chegando a conclusão de que o coronel Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas (financiador), Antonio Gomes da Silva (executor) e Hedilerson Fialho Martins Barbosa (intermediador) foram os responsáveis pela execução. Os três estão presos pelo homicídio, enquanto aguardam as respectivas submissões ao júri popular. As ações tramitam em segredo após a extração dos dados do celular de Zampieri, o “Iphone Bomba”.
O pedido de Laranjo, formulado como questão de ordem pública, antecipa futura apresentação de um pedido de nulidade processual, com base na omissão de provas e indícios considerados relevantes pela defesa. Entre os elementos destacados, consta a possibilidade de que parte da munição utilizada no homicídio pertencia a Maria Angélica — informação considerada “novo indício de prova” pela defesa.
O advogado critica a decisão do delegado responsável pelo inquérito, que, segundo ele, deixou de indiciar Maria Angélica com base em fundamentos resumidos a um único parágrafo. Conforme expôs, não houve análise adequada das informações extraídas do telefone celular da investigada, cujos dados coincidem com datas, locais e conteúdos relacionados aos fatos que culminaram na morte de Zampieri.
Os elementos disponíveis evidenciariam a existência de uma rede de conexões políticas e econômicas associadas à investigada, o que poderia ter influenciado a linha adotada pela autoridade policial. A defesa menciona, inclusive, que Maria Angélica teria desistido de uma reunião com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, alegando preocupação com a situação, ao mesmo tempo em que mencionava abertamente sua relação com o chefe do Executivo estadual. Isso foi confessado por ela em sede de depoimento à Justiça.
A motivação do crime teria como pano de fundo a disputa por terras rurais com valores milionários, possivelmente envolvendo posseiros e contratos de cessão de direitos não devidamente investigados. A petição cita “uma pilha” de contratos que envolvem dezenas de pessoas ainda não ouvidas, e sustenta que a complexidade do contexto não foi contemplada na investigação inicial.
Segundo o advogado, a dinâmica dos fatos demonstra que o réu Antônio Gomes da Silva teria efetuado disparos de arma de fogo utilizando munições de terceiros. Parte da munição, contudo, não seria proveniente da mesma fonte que a arma usada, o que indicaria a participação de outras pessoas na execução do crime. A defesa alega que a munição foi despachada por meio de aeroporto e utilizada em campeonato oficial, indício que, segundo o defensor, exige apuração.
A defesa recorre ainda ao chamado Heptâmetro de Quintiliano, uma técnica clássica de análise criminal. Neste ponto, sustenta-se que, embora o réu Antônio tenha confessado a autoria dos disparos, há elementos que apontam para uma coautoria associada à disputa fundiária, ainda não identificada em sua totalidade. Tal circunstância, segundo a petição, deveria ter levado a investigação para uma linha de apuração mais ampla.
Laranjo também sustenta que existem “provas novas” e “fatos contemporâneos” ao processo que estão sendo ignorados. Um dos trechos do documento menciona supostas práticas de extorsão e coação ligadas à Angélica e Zampieri, que atuariam em conjunto para forçar vantagens indevidas sobre compradores de terras. A defesa aponta ainda para possível ocultação patrimonial mediante a nomeação de curadores, sugerindo um esquema de lavagem de capitais.
Diante das alegações, o advogado requer a instauração de incidente processual para que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso esclareça se há investigação em curso contra Maria Angélica, seu eventual status como investigada e se houve demora injustificada na comunicação de novos fatos ao juízo.
Além disso, pede-se apuração da conduta do delegado de polícia, que teria deixado de anexar aos autos depoimentos relevantes prestados pela investigada e outros documentos com potencial de alterar o rumo da ação penal.
O pedido foi protocolado em 25 de março de 2025 e aguarda manifestação do Ministério Público e eventual apreciação judicial.
Zampieri foi executado em dezembro de 2023 e, a partir da extração dos dados contidos em seu celular, foi revelado uma rede de negociação de sentenças e disputas judiciais por terras em Mato Grosso.
Inclusive, foi a partir do seu “Iphone Bomba” que a Justiça conseguiu detectar sua influência “lobista” perante desembargadores do Judiciário Nacional, sobretudo no de Mato Grosso, o que culminou no afastamento de João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes, ambos afastados por suspeita de venderem decisões a ele em troca de propina.