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Sexta-feira, 28 de março de 2025

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ACUSADA DE CALOTE EM FORMATURAS

Ex-funcionário acusa Imagem e Eventos de abandono e prejuízo de até R$ 15 mil: “absolutamente tudo foi tirado de nós”

Foto: Reprodução

Ex-funcionário acusa Imagem e Eventos de abandono e prejuízo de até R$ 15 mil: “absolutamente tudo foi tirado de nós”
“Absolutamente tudo foi tirado de nós”, afirmou ex-funcionário da Imagem e Eventos, empresa acusada de calote milionário por formandos de diversos cursos, como medicina, direito, nutrição e enfermagem, da Univag e Unic. Até o momento, mais de 130 boletins de ocorrência foram confeccionados contra a empresa, e o delegado Rogério Oliveira, titular da Delegacia Especializada do Consumidor (Decon), estima danos superiores aos R$ 7 milhões.


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O advogado da empresa comunicou na última sexta-feira (31) que os eventos deveriam ser cancelados diante da incapacidade financeira de arcar com os mesmos. A informação foi divulgada abruptamente às vésperas da formatura da Turma 12 de medicina da Univag, que só ocorreu no último sábado (1) porque os formandos arcaram com R$ 530 mil após a Imagem “sumir” com os R$ 1,2 milhão que eles já haviam investido.

O comunicado de última hora, informando que havia protocolado um pedido de recuperação judicial, pegou os envolvidos nas formaturas de surpresa, inclusive os funcionários da empresa.

Em entrevista ao Olhar Jurídico, um ex-colaborador que atuou diretamente na formatura da T12 disse que ele e seus colegas foram “abandonados” e que nenhum tipo de acerto foi realizado junto à Imagem.

Ele informou que a empresa pediu 10 dias para dar uma resposta de fato, contudo, diante da negativa ao pedido de recuperação, isso se tornou inviável. “Sequer uma mensagem que pudesse nos trazer o mínimo de alívio a respeito da integralidade dos pagamentos, levamos um prejuízo imenso, entre R$ 10 e R$ 15 mil”, lamentou.

O ex-colaborador contou que foi um verdadeiro caos nos envolvidos após o comunicado, emitido na manhã de sexta, após os funcionários terem trabalhado por 20 horas para fazer o Jantar dos Pais, até às 4h da quinta-feira (30).

Cansado após o longo expediente, ele só acordou porque seus colegas começaram a ligar incessantemente. Preocupado com o baile da T12, ele entrou em pânico diante da complexidade que o evento exige.

De imediato, ele começou a pressionar o advogado da Imagem sobre o caso, e as respostas que recebia eram vagas, do tipo: “estamos alinhando isso e logo retornamos”. Contudo, já sabia que a possibilidade de isso acontecer de fato, era mínima. “Na verdade, eles (a empresa) queriam ganhar tempo”.

Contou que foram horas muito difíceis, porque viu sua vida pessoal e profissional sofrendo um verdadeiro golpe, o que culminou em camadas de medo e ansiedades. Ele chorou por uns minutos, mas decidiu seguir em frente para minimizar os prejuízos. No entanto, mais uma frustração: os colaboradores, ainda que engajados e solidários com os estudantes, tiveram bloqueados todos os acessos aos sistemas das turmas, aos e-mails, servidores, “absolutamente tudo foi tirado de nós, fiquei no vazio de informações”, complementou.

 Diante da falta de humanidade por parte da empresa, que deixou os ex-colaboradores à própria sorte, uma vez que as fechaduras foram trocadas, os acessos bloqueados, ele tem dificuldade em acreditar em “dias melhores”. “Certamente iremos atrás de nossos direitos”, finalizou.

Recuperação ou golpe?

A empresa teve seu pedido de recuperação judicial negado pelo juiz Márcio Aparecido Guedes, da 1ª Vara Cível de Cuiabá. O magistrado não economizou nas críticas e detonou o "desleixo" da empresa ao apresentar o requerimento.

No processo, a agência alegou que atua há mais de 25 anos no mercado de eventos e formaturas acadêmicas em todo o Brasil, construindo relações de confiança com credores, fornecedores e estudantes. Segundo a empresa, o rombo financeiro teria começado na pandemia da Covid-19, quando os eventos foram suspensos. Mesmo com a retomada, ela afirmou que as dívidas continuaram crescendo e, sem saída, pediu ajuda judicial para tentar evitar a falência.

O juiz, contudo, rechaçou os argumentos no pedido e repreendeu a postura contraditória na companhia. Em decisão publicada na segunda-feira (3), Guedes negou o pedido de pronto: "Anoiteceu e não amanheceu". A crítica à empresa veio porque, "da noite para o dia", ela simplesmente comunicou a centenas de formandos que não poderia mais cumprir os contratos.

Além disso, a Imagem e Eventos nem sequer apresentou os documentos necessários para comprovar à Justiça que tinha capacidade de se recuperar financeiramente. Faltaram balanços patrimoniais, relatório de passivos, lista de bens dos sócios, extratos bancários, entre outros. O magistrado reforçou a falta de compromisso da empresa ao destacar que o valor da causa foi fixado em apenas R$ 1,5 mil — sendo que só os estudantes da Univag pagaram mais de R$ 1 milhão pelo baile.

"Não bastasse o desleixo com o ordenamento jurídico e com o processo recuperacional, destaca-se (apesar de passível correção) o valor da causa indicado pela empresa em completo desacordo com a realidade", escreveu o juiz.

Outro ponto incoerente foi o pedido de sigilo no processo. Para Guedes, isso não faz sentido, já que a empresa já é alvo de matérias na imprensa nacional sobre os supostos golpes. O juiz também apontou contradição no fato de a empresa alegar que está em crise desde 2020, mas continuar assinando contratos milionários com formandos — para, na última hora, "abandonar o barco" e pedir recuperação judicial.

Outro detalhe chamou atenção: nas semanas que antecederam o baile de sábado, a empresa ainda ofereceu promoções para pagamentos antecipados. O prazo final para os descontos era 30 de novembro, exatamente o mesmo dia em que protocolou o pedido de recuperação. Essa informação consta em uma ação de cobrança movida por uma formanda que se diz lesada pela empresa.

Para o juiz, a contradição é latente. "A empresa devedora, que possui como escopo empresarial a realização de eventos, perquirir a recuperação judicial, tendo como último ato o cancelamento dos eventos essenciais à sua manutenção, novamente demonstra indubitável contradição das suas condutas", escreveu Guedes. Diante de todas as irregularidades, o pedido de recuperação judicial foi negado.
 
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