O juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, soltou o ex-assessor parlamentar Elzyo Xavier Pires e o empresário João Lennon Arruda de Souza, alvos da Operação Ragnatela, acusados de lavarem milhões por meio de eventos e shows em casas noturnas controladas pelo Comando Vermelho, em Cuiabá. Na mesma decisão, o magistrado manteve três faccionados presos, bem como negou retirar a tornozeleira eletrônica instalada em Rodrigo Leal, ex-servidor da Câmara Municipal de Cuiabá.
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Deflagrada em junho passado pela Ficco/MT (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), a Ragnatela tem como objetivo desbaratar esquema de lavagem de dinheiro em que agentes públicos, como o vereador Paulo Henrique de Figueiredo (MDB), preso na segunda fase, facilitavam a concessão de licenças para shows e eventos em casas noturnas, de propriedade de membros do CV, usadas para dar aparência de licitude aos milhões de reais provenientes de crimes, como o tráfico.
O magistrado considerou que, embora constatado o contato direto de Elzyo e Lennon com os demais investigados, eles não movimentaram valores expressivos nas respectivas contas bancárias e não tiveram participações relevantes no esquema desbaratado. Diante disso, ambos tiveram as prisões revogadas. Contudo, Elzyo será monitorado por tornozeleira eletrônica.
Considerando a posição de liderança de Rodrio Souza Leal, que inclusive abriu uma empresa em seu nome para lavar dinheiro para o Comando Vermelho, o juiz decidiu que ele deve continuar monitorado por tornozeleira. Leal passou a responder em liberdade por ordem do desembargador Luiz Ferreira da Silva, proferida em julho do ano passado.
Rodrigo é acusado de organização criminosa e lavagem de dinheiro, em circunstâncias que evidenciam a utilização de estabelecimentos comerciais para a movimentação ilícita de valores vinculados à facção criminosa CV.
Apesar de ter pleiteado a retirada da tornozeleira alegando que sua situação seria idêntica à de Kamilla Beretta Bertoni, o juiz anotou que, em verdade, o caso de Rodrigo é mais grave. Jean anotou que existem indícios de que as ações de Kamila era derivadas da condição de subordinada de Rodrigo, o que demonstra sua participação de liderança no esquema.
Já em relação ao empresário Lauriano Cruz, inserido na investigação por erro da autoridade policial, o juiz decidiu retirar sua tornozeleira.
Por fim, na mesma ordem, o juiz manteve a prisão de Joadir Alves Gonçalves, vulgo “Jogador”, Joanilson Lima de Oliveira, “Japão”, e Willian aparecido da Costa Pereira, o “Gordão”, os quais desempenhavam papéis centrais na operação criminosa.
Jogador é apontado como uma das lideranças e atuava como “padrinho” de novos e antigos integrantes, além de ser responsável por movimentar os recursos financeiros ilícitos obtidos pelo grupo. Inclusive ele seria o padrinho de “Japão”.
As investigações revelaram que Joadir utilizava pessoas jurídicas e eventos promovidos na casa noturna Dallas Bar, adquirida com R$ 800 mil em espécie, para lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas.
A boate, formalmente registrada no nome de Willian Gordão, servia como fachada para a dissimulação de valores ilegais. Além disso, as movimentações financeiras das empresas ligadas aos réus chamaram a atenção das autoridades.
A conta da Dallas Bar, por exemplo, movimentou mais de R$ 13 milhões em 2022, enquanto a empresa WA DA COSTA PEREIRA registrou transações de aproximadamente R$ 9 milhões entre 2021 e 2022. Parte dos valores era caracterizada por depósitos fracionados e transferências de menor valor, prática comumente associada à tentativa de ocultar a origem ilícita dos recursos.
Japão, afilhado de Joadir, é acusado de ser o operador logístico da facção, atuando diretamente no recolhimento de valores provenientes das atividades ilícitas e no cadastramento de novos integrantes do grupo criminoso. Dados extraídos de seu aparelho celular reforçaram sua posição como peça-chave na arrecadação e gerenciamento das “lojinhas” e “camisas” da organização, além de manter um banco de dados de membros vinculados ao Comando Vermelho.
Diante dos indícios apresentados, a Justiça concluiu que a manutenção das prisões preventivas é essencial para preservar a ordem pública e evitar a continuidade dos crimes praticados pela organização.
No que se refere ao estado de saúde de Gordão, o magistrado ressaltou que a unidade prisional tem condições de oferecer o tratamento necessário, não sendo comprovada a imprescindibilidade da prisão domiciliar.