O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), ao denunciar o vereador afastado Paulo Henrique de Figueiredo na Operação Pubblicare, detalhou transações financeiras e operações suspeitas que, segundo as investigações, apontam para sistema de lavagem de dinheiro e corrupção. Paulo seria o elo entre agentes públicos e lideranças do Comando Vermelho, em Cuiabá.
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Acusado de integrar o CV e liderar esquema de corrupção e lavagem, vereador Paulo Henrique se torna réu
Nesta terça-feira (12), o juiz Jean Garcia de Freitas, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, recebeu denúncia e tornou réu Paulo Henrique (MDB). Assinada pelo coordenador do Gaeco, Adriano Roberto Alves, a acusação enfatiza a gravidade das práticas de Paulo Henrique, e requereu que ele seja condenado a ressarcir os cofres públicos e indenizar os prejuízos à sociedade.
A acusação aponta que o vereador seria a liderança do CV, responsável pela execução do esquema através de propinas recebidas de promotores de eventos na capital, sendo a maioria deles integrantes da facção.
Essas transações, que somam valores consideráveis, envolvem tanto contas pessoais quanto a conta do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado de Mato Grosso (SINDARF/MT), presidido pelo próprio Paulo Henrique.
Uma parte significativa desses valores teria sido transferida para empresas vinculadas a William Gordão, um dos investigados da Ragnatela, que possui relação direta com o Comando Vermelho e é apontado como peça-chave na lavagem de dinheiro.
Entre a conta de Paulo Henrique e as empresas Expresso Lava Car e Complexo Beira Rio Eventos, ambas de propriedade de William Gordão, foram detectadas transações de R$ 15 mil, que, segundo o MP, sugerem um fluxo constante e premeditado de recursos.
Além disso, foram destacadas transações provenientes da empresa Dom Carmindo, também usada pelo CV para lavagem, para a conta de Paulo Henrique, o que reforça o vínculo do vereador com atividades financeiras ilícitas.
O Sindarf também seria usado por Paulo para movimentar dinheiro com membros do CV. As investigações flagraram sete transações entre o sindicato e o Expresso Lava CAr, totalizando R$ 67,9 mil, reforçando a alegação de que a entidade estaria sendo usado para o repasse de vantagens indevidas ao investigado.
O MP afirma que o padrão regular dessas transações sugere um esquema de pagamento coordenado, utilizado para manter a colaboração de Paulo Henrique e outros fiscais do sindicato em prol do grupo criminoso.
Entre 2021 e 2024, somando os valores descritos na denúncia neste período, chega-se ao total de R$ 99.745,00, distribuídos assim: R$ 15 mil entre Paulo e empresas de William Gordão (Expresso Lava Car e Complexo Beira Rio Eventos), R$ 2 mil recebidos da Dom Carmindo, R$ 2.500 transferidos para o Dallas Bar (também de Gordão), R$ 67.900,00 - Transações entre o Sindarf e a Expresso Lava Car, R$ 10.545,00 em aquisição de telhas para Sindicato pela Expresso Lava Car, R$ 1.800,00 de Paulo Henrique a William Gordão.
Ragnatela e Pubblicare
O esquema usava casas noturnas para também lavar dinheiro obtido com as práticas criminosas, de acordo com a denúncia.
Os elementos comprobatórios diligenciados na operação demonstraram o recebimento de propinas de promotores de eventos e até mesmo do CV, através de Willian Gordão (alvo da primeira fase da Operação, chamada Ragnatela).
O promotor ainda apontou que existem elementos que indicam a prática de lavagem de dinheiro, especialmente porque Paulo usou de terceiros para transacionar valores expressivos, cuja origem, segundo a denúncia, provém da corrupção e do uso dessas pessoas para ocultação de patrimônio.
O fato mais grave elencado na denúncia foi a ligação em grupo feita entre Paulo e a liderança do Comando Vermelho e principal alvo da Ragnatela, Joadir Alves Gonçalves, vulgo "Jogador", e uma reunião presencial entre eles para tentar evitar ou reduzir a punição aplicada ao seu assessor, Rodrigo de Souza Leal.
“Verifica-se que, o vereador PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO era a liderança do CV responsável pela prática de corrupção e lavagem de dinheiro, através de propinas recebidas de promotores de eventos em Cuiabá/MT, sendo a maioria deles integrantes da facção criminosa Comando Vermelho, que se utiliza de casas noturnas para também lavar dinheiro obtido com suas práticas criminosas”, anotou o promotor.
Em decisão proferida nesta terça-feira (12), então, o juiz Jean Garcia de Freitas verificou que a acusação cumpriu os requisitos formais e decidiu receber a denúncia, tornando réu Paulo Henrique pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Além dele, foram indiciados José Márcio Ambrósio Vieira, por lavagem de dinheiro e organização criminosa, apontado como seu testa de ferro; José Maria Assunção e Rodrigo Anderson de Arruda Rosa, por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, e Ronnei Antônio Souza da Silva por corrupção ativa.
No dia 25 de setembro, ao decidir revogar a prisão de Figueiredo cinco dias após a detenção, o desembargador Luiz Ferreira da Silva o afastou Paulo da Câmara Municipal.
Apesar de ter sido colocado em liberdade provisória, Paulo é monitorado por tornozeleira eletrônica e não poderá frequentar a Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil, bem como quaisquer órgãos da administração pública direta ou indireta do município de Cuiabá.
Ele deverá manter seu contato com a Justiça atualizado, comparecendo a todos os atos do processo, e foi proibido de manter quaisquer meios de comunicação com os demais investigados, inclusive com eventuais testemunhas.