O estudante de medicina Rodolfo Canavarros se tornou réu por embriaguez ao volante e por desacatar policiais militares. Decisão que recebeu a denúncia do Ministério Público foi proferida pelo juiz João Filho de Almeida Portela, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, nesta sexta-feira (25). Em setembro de 2021, Rodolfo se envolveu numa confusão com dois policiais militares, após colidir seu veículo na traseira do carro do tentente T.M., na capital. Xingamentos, agressões e desacato foram registrados.
Leia mais:
Estudante de medicina afirma ter sido agredido por PMs de forma covarde e torturado; veja relato de testemunhas
Rodolfo registrou boletim contra os tenentes G.P. e T. M., afirmando que foi agredido na madrugada após a colisão. Os militares também registraram contra o estudante, dando uma versão totalmente distinta.
Denúncia recebida
A promotora Janine Barros Lopes apresentou denúncia contra Rodolfo no dia 9 de setembro deste ano. Ela narrou que ele conduzia seu veículo sob estado de embriaguez por influência de álcool, e ainda desacatou os militares no exercício de sua função.
Inquérito que embasou a denúncia constatou que o estudante bateu seu veículo na traseira do carro do PM. Após a colisão, o denunciado tentou ir embora, momento em que T.M. se identificou como policial militar e o impediu de deixar o local do sinistro.
Na sequência, um colega de T.M. foi acionado e, quando chegou no local, passou a ser ofendido por Rodolfo, que os chamou de “PM de bosta”, “você acha que me intima (sic), meu pai é coronel não sou filho de pai assombrado, seu preto macaco de merda”. Posteriormente, uma guarnição da Polícia Militar chegou ao local, momento em que o estudante começou a desacatar os policiais dizendo o seguinte: “policiais de bosta”, “ninguém é porra nenhuma”, “meu pai é coronel da PM e vai fuder (sic) com todos vocês”.
Durante a abordagem, os policiais constataram que Rodolfo apresentava sinais visíveis de embriaguez, tais como “agressividade, exaltação, hálito etílico e fala desconexa”. Na oportunidade, não lhe foi oferecido o teste de etilômetro, pois a guarnição não estava portando o aparelho naquele momento. Porém, a alteração da capacidade psicomotora em razão da influência de álcool foi devidamente comprovada pelos depoimentos colhidos, além das imagens anexadas ao processo.
Diante do inquérito, a promotora, então, resolveu denunciar canavarros por embriaguez ao volante e por desacatar funcionário público no exercício de sua função.
Examinando o caso, então, o juiz decidiu tornar Rodolfo réu nos termos da denúncia. Almeida Portela considerou que as provas mencionadas pelo ministério público na acusação são elementos suficientes para desencadear uma ação penal, a qual Canavarros poderá ser punido por dirigir embriagado e desacato.
A promotora deixou de oferecer acordo a Rodolfo, uma vez que ele é réu pela prática do crime de lesão corporal gravíssima, em ação que tramita na 5ª Vara Criminal da capital. Neste caso, ocorrido em 2015, ele, seu irmão e mais um grupo de amigos agrediram uma turma de adolescentes que dividia o espaço de um quiosque no condomínio de alto padrão, Alpha Garden, capital.
Na ocasião, as vítimas foram espancadas e uma delas, de 17 anos, ficou em estado grave. Ela necessitou passar por três cirurgias de reconstrução facial, no valor de R$ 43 mil, por sofrer fraturas em seu rosto, como pstose paupebral residual, que é a queda da pálpebra superior, o que compromete a estética e diminui o campo de visão.
Depoimento de Rodolfo
As versões são conflitantes e, de acordo com informações prestadas pelo estudante, ele conta que por volta de 1h seguia pela Rua Osvaldo da Silva Correia, no Bairro Despraiado, quando acabou colidindo com a traseira do carro do T.M. Ele disse que desceu para verificar, e afirmou ao militar que pagaria o dano e até deixaria sua CNH com ele T.M., então, teria dito que é policial, apesar de não ter apresentado documento.
Rodolfo seguiu depondo que deixou o policial tirar fotos do carro, anotar a placa, para que depois fosse embora. Segundo os relatos, T.M., contudo, teria dito que não ia e deu um murro em Rodolfo. O estudante caiu ao chão e teria levado mais socos e chutes.
A esposa do militar então teria ligado para o tenente G.P., que teria chegado sem uniforme. Rodolfo disse que o militar teria apontado uma arma contra ele, além de também de ter lhe dado tapa, socos e murros.
O estudante disse que tentou pegar seu celular para gravar a situação, mas os policiais teriam jogado o aparelho no chão. O jovem disse que continuou sendo agredido pelos militares, disse a eles que também era filho de militar e aquilo não era necessário, mas os policiais continuaram a ofendê-lo. As agressões só teriam parado quando uma viatura da PM chegou ao local.
Versão da PM
O tenente T.M. também registrou um boletim de ocorrências contra Rodolfo e deu uma versão diferente. Segundo relatos, ele e sua esposa seguiam em um Ford Ecosport pela Rua Osvaldo da Silva Correia, quando um VW Polo, conduzido por Rodolfo, colidiu com a traseira de seu veículo. Ele e sua esposa então desceram do carro e tiraram fotografias do acidente, por observarem que Rodolfo estava extremamente exaltado, alcoolizado, agressivo, provocando e insinuando que iria agredir o policial e sua esposa.
Foi então acionada uma equipe da PM para prestar apoio. Enquanto esperavam a chegada da PM Rodolfo teria dito que ia embora do local, mas foi impedido por T.M. Eles se desentenderam até a chegada do irmão de Rodolfo, que teria negociado com T.M., dizendo que arcariam com os danos. Quando a PM chegou ao local as partes já teriam entrado em acordo.