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Autor da Chacina de Sinop é condenado a 136 anos e terá que pagar indenização de R$ 200 mil

15 Out 2024 - 21:22

Da Redação - Pedro Coutinho e Luis Vinicius

Autor da Chacina de Sinop é condenado a 136 anos e terá que pagar indenização de R$ 200 mil
Autor da Chacina de Sinop, Edgar Ricardo de Oliveira foi condenado a 136 anos, três meses e 20 dias de reclusão pelo Tribunal do Júri, em julgamento ocorrido nesta terça-feira (15). Edgar foi o responsável por ceifar a vida de sete pessoas, inclusive Larissa Frazão, adolescente de 12 anos que foi atingida pelas costas. O réu também deverá indenizar as famílias das vítimas em R$ 200 mil. 


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Edgar começará a cumprir a pena provisoriamente. Lida a sentença, o réu comunicou que recorrerá da decisão. A sessão de julgamento foi presidida pela juíza Rosângela Zacarkim dos Santos. O promotor Herbert Dias Ferreira fez a acusação e o defensor público, Ricardo Bosquesi, a defesa do réu.

No julgamento, realizado no Fórum da Comarca de Sinop, foram ouvidas cinco testemunhas de acusação, sendo uma delas Raquel Gomes de Almeida, mãe de Larissa e esposa de Getúlio Frazão, também assassinado, e três de defesa. Na sequência, Edgar depôs e, em seguida, iniciaram os debates entre defesa e acusação.  

O promotor de Justiça pediu ao Júri a condenação de Edgar, que confessou os crimes, com base nos termos da denúncia: homicídios com as qualificadoras de motivo torpe, meio cruel e que resultou perigo comum, e recurso que dificultou defesa das vítimas, por seis vezes (1º, 2º, 3º, 4º, 5º e 6º fatos); homicídio com as qualificadoras de motivo torpe, meio cruel e que resultou perigo comum, recurso que dificultou a defesa da vítima e vítima menor de quatorze anos (7º fato); bem como concurso de pessoas (8º fato); roubo e emprego de arma de fogo (9º fato).

O defensor, por sua vez, buscou, incessantemente, afastar as qualificadoras requeridas pelo Ministério Público na denúncia. Se embasou em termos técnicos para defender Edgar, no sentido de que ele cometeu homicídios simples, e não qualificados.
 
Concluídos os debates, a juíza presidente indagou os jurados se estavam aptos a julgar. Ante a resposta afirmativa, ocorreu a leitura dos quesitos. A juíza, então, proferiu a sentença final, condenando Edgar a 136 anos, no regime fechado e sem o direito de recorrer em liberdade.

A Chacina

De acordo com a denúncia, na manhã de 21 de fevereiro de 2023, Edgar Oliveira, acompanhado de Ezequias Ribeiro, apostou dinheiro em jogos de sinuca em um bar da cidade, perdendo cerca de R$ 4 mil para Getúlio Rodrigues Frazão Júnior.
 
No período da tarde, Edgar retornou ao estabelecimento acompanhado de Ezequias e “chamou a vítima Getúlio para novas partidas de sinuca, também com aposta em dinheiro, ocasião em que perdeu novamente e, de inopino, jogou o taco sobre a mesa, verbalizou com seu comparsa Ezequias que, de imediato, sacou uma arma de fogo e rendeu as vítimas, encurralando-as na parede do bar, enquanto Edgar se dirigiu à camionete e se apossou de uma espingarda”. 

Em seguida, Edgar seguiu em direção às vítimas e efetuou o primeiro disparo contra Maciel Bruno, tendo, na sequência, realizado o segundo tiro em desfavor de Orisberto, enquanto o comparsa Ezequias disparou contra Elizeu.

Ele ainda efetuou mais dois disparos, acertando Getúlio e Josue. Adriano e a adolescente Larissa tentaram correr, mas também foram atingidos. As vítimas Maciel Bruno e Getúlio foram alvejadas por Ezequias quando já estavam caídas no chão.

"Ninguém morre de graça"

Na tentativa frustrada de amenizar a barbárie que cometeu, Edgar começou dizendo que somente ele sabe a verdade absoluta do que ocorreu. Dia antes dos homicídios, ele teve um dia normal. Empresário no ramo de obras, visitou uma delas, conversou com seus funcionários e um fornecedor.

Ele seguiu por considerável tempo narrando sobre o dia anterior ao ocorrido, com objetivo de tentar mostrar que sempre foi um homem íntegro, honesto e trabalhador, que sempre construiu sua história e conquistou tudo sozinho. Tinha uma caminhonete de alto padrão, movimentava expressivas quantias em espécie com sua empresa, pagava os funcionários em dia.

Pai de família, tem um filho, o qual ele disse que ama mais que tudo nessa vida. Era casado e morava com sua esposa. Porém, egocêntrico, não tremeu ao dizer com a maior naturalidade que se envolvia com diversas outras mulheres. Também se orgulha ao dizer que não é um bandido, e que se envergonha de ser taxado como vagabundo ou assaltante. “Nunca roubei, assaltei. Fico ouvindo ser taxado como assaltante, me sinto envergonhado, isso destrói o meu ego”, alegou.

Não demonstrou arrependimento pelo que fez e preferiu seguir o caminho único da sua verdade: depôs que reagiu aos insultos e as sugestas que seus adversários de bilhar cometeram contra ele. Alegou que havia uma tramoia entre os rivais no jogo, cujo objetiva seria tomar tudo que era seu: pretendiam roubá-lo, desestabilizá-lo na sinuca para levar sua grana. Inclusive, confessou que sequer conhecia três das vítimas. Matou a jovem de 12 anos sem querer.

Chegou a dizer que o dono do bar onde os fatos ocorreram, Maciel Bruno de Andrade, teria clonado o seu celular para saber das suas movimentações financeiras. Indagado pela assistência da acusação sobre o porque não disse isso antes, alegou que tentou registrar um Boletim de Ocorrência, mas não foi atendido pela polícia.

Ainda sobre as motivações, refutou a tese de que cometeu a chacina por dinheiro. Salientou que ganhava muito mais do que os R$ 4 mil colocados na mesa de aposta, mas que era viciado em jogo. Tentou culpar a cocaína, droga a qual ele disse que não era viciado, mas, naquele dia, cheirou e se perdeu.

“Ezequias sugeriu eu cheirar um pino. Eu fui no banheiro e cheirei. Depois que eu devolvi o pino para Ezequias, parece que o mundo já tinha parado. Eu só consegui ouvir as vozes em volta, das sugestas do Orisberto, Bruno, Getúlio. Eu não tinha nada contra o Orisberto, era a segunda vez q vi ele na vida. Mas ele me ameaçou com a arma”, alegou. A arma de Orisberto, contudo, nunca foi encontrada.

As imagens também refutam a versão de que ele cometera os crimes por "sugestas" das vítimas. O promotor mostrou que, na verdade, elas estava assistindo um jogo que era transmitido na televisão, e não a partida que de sinuca que ele jogava contra Getúlio, também executado.

Edgar tentou emplacar que as pessoas do bar estariam lhe provocando. Dos áudios é possível ouvir que ninguém faz absolutamente nenhum gesto ou direciona qualquer frase à Edgar. Tudo que se ouve está relacionado à partida de futebol. A disputa de bilhar era indiferente para os demais que estavam no local. 


Ele seguiu insistindo que a motivação foram as provocações encabeçadas por Bruno, e não o dinheiro colocado na mesa, ou a derrota nas partidas de bilhar. “Eu sabia que só ali haveria a possibilidade de um jogo com muito dinheiro. Eu sou jogador, jogo sinuca por Hobbie. Eu não dependia do jogo, do dinheiro de jogo, eu era empresário. O que falam aí que foi por causa de uma bola, do dinheiro, é tudo julgamento que estão colocando sem saber dos fatos reais do que aconteceu. Porque ninguém ouviu nada sobre mim”, disse.

Contudo, ao ser retrucado sobre tal alegação, se viu encurralado. O promotor Herbert Dias Ferreira questionou: se não foi pelo dinheiro, pelo jogo, porque, então, você voltou para o bar, depois de ter saído, ao receber uma foto de um maço de dinheiro? “Era um Hobbie, mas o dinheiro era um incentivador, porque lá era uma disputa”, disse Edgar, acrescentando que “ninguém morre de graça”.

Além disso, as imagens mostram que, logo após assassinar sete pessoas, a primeira coisa que Edgar faz é retonar à mesa onde ele disputava para pegar um maço de dinheiro deixado por Getúlio. Não bastasse, ele ainda pegou a bolsa de Raquel, mãe de Larissa, que só sobreviveu porque as armas ficaram sem munição. 

Se ninguém morre de graça, qual teria sido, então, a motivação para tal? Edgar se esquivou, disse que cada um fez por si. Inclusive a Larissa? retrucou a acusação. “Não, a Larissa foi um tiro acidental. Eu tentei mirar no Luis (outro sobrevivente) [...] tudo foi uma junção de tudo, e ali no ápice aconteceu. Eu sempre pensei que fosse ter controle para não deixar nada acontecer, mas aconteceu”.

As vítimas da chacina foram Maciel Bruno de Andrade Costa, Orisberto Pereira Sousa, Elizeu Santos da Silva, Getúlio Rodrigues Frazão Júnior, Josue Ramos Tenorio, Adriano Balbinote e Larissa de Almeida Frazão (12 anos).  
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