Vereador e candidato à reeleição na Câmara de Cuiabá, Paulo Henrique (MDB), preso nesta sexta-feira (20) durante a Operação Pubblicare, deflagrada pela Polícia Civil, se reuniu com uma liderança do Comando Vermelho identificada como Joadir Alves Gonçalves - conhecido como "Jogador"-, entre os meses de abril e junho deste ano, segundo a investigação. O objetivo desses encontros teria o intuito de evitar ou mitigar a punição imposta pela facção a seu assessor Rodrigo de Souza Leal.
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“Tal fato evidencia a influência de Paulo Henrique dentro da referida facção criminosa”, diz trecho de documento ao qual o Olhar Direto teve acesso. A Operação Pubblicare, segunda fase da Operação Ragnatela, foi deflagrada para cumprir ordens judiciais contra o núcleo de uma organização criminosa formado por servidores públicos que colaboravam com membros do Comando Vermelho na lavagem de dinheiro por meio da realização de shows e eventos em casas noturnas de Cuiabá.
Segundo as investigações, Rodrigo era uma das peças centrais do esquema. Ele era coordenador de cerimonial da Câmara de Cuiabá e foi indicado para o cargo por Paulo Henrique. Leal, contudo, foi exonerado após ser preso na primeira fase da Operação Ragnatela. Rodrigo foi solto pela Justiça no dia 27 de junho, mediante cumprimento de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica.
Durante as investigações também foi identificado que os criminosos contavam com o apoio de agentes públicos responsáveis pela fiscalização e concessão de licenças para a realização dos shows, sem a documentação necessária. Paulo Henrique atuava em benefício do grupo na interlocução com os agentes públicos e recebendo, em contrapartida, benefícios financeiros.
A Operação Pubblicare é desmembramento da Operação Ragnatela, deflagrada em junho deste ano, quando a FICCO-MT desarticulou um grupo criminoso que teria adquirido uma casa noturna em Cuiabá pelo valor de R$ 800.000,00, pagos em espécie, com o lucro auferido por meio de atividades ilícitas. A partir de então, o grupo passou a realizar shows de MCs nacionalmente conhecidos, custeados pela facção criminosa em conjunto com um grupo de promoters.
Punição
Investigação aponta que Rodrigo Leal foi “sentenciado” pelo conselho final da facção. O “salve” foi determinado após um possível desvio de dinheiro, bem como o fato de o “réu” ter realizado um show com um cantor de funk do estado de São Paulo, o MC Daniel, algo fora das diretrizes da facção criminosa, que possui suas origens no estado do Rio de Janeiro.
Segundo a investigação, o referido “salve” foi uma sugestão de proibir Rodrigo Leal de promover eventos em Mato Grosso pelo prazo de dois anos. O show de Daniel foi realizado na casa de shows Musiva, e teria sido promovido por Rodrigo. Durante a realização do show, o artista teria sido hostilizado pelo público, que fazia a todo o momento símbolo com as mãos em referência à facção criminosa Comando Vermelho.
Após o evento, circulou o “salve” nos grupos de whatsApp de integrantes do Comando Vermelho em Mato Grosso, seguido de uma postagem no Instagram em que Rodrigo Leal afirma que suspenderá, por um período, a realização de shows e eventos.