Grupo de 19 promotores de Justiça enviou documento de 60 páginas ao Conselho Superior do Ministério Público de Mato Grosso (MPE) fazendo críticas à participação do órgão no Mutirão da Conciliação Ambiental, organizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). Por meio de nota, O Ministério Público defendeu acordos firmados nos Mutirões da Conciliação Ambiental e apontou ganhos ao meio ambiente (confira ao final do texto).
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Segundo o documento, embora o objetivo do Mutirão seja promover a autocomposição ambiental, centenas de acordos foram e estão sendo celebrados sem nenhuma reparação civil do dano. A prática tem acarretado a renúncia ou abdicação da reparação civil do dano a desmatadores ilegais responsáveis pela destruição de dezenas de milhares de hectares de Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal.
Segundo os promotores, considerando que o desmatamento em área sem proteção específica é geralmente bem maior que o desmatamento em áreas protegidas (área de reserva legal e área de preservação permanente), a estimativa é de que, pelo menos nas duas primeiras edições do Mutirão da Conciliação Ambiental, a área ilegalmente desmatada de Floresta Amazônica, Cerrado e Pantanal e que não será objeto de nenhum tipo de indenização, recuperação ou compensação ecológica pelos serviços ambientais suprimidos de forma ilegal, provavelmente, seja da ordem das dezenas de milhares de hectares.
Caso sejam realizadas todas as edições previstas para o Mutirão da Conciliação Ambiental (quatro no ano de 2024), este número, segundo o grupo de promotores, poderá chegar a centenas de milhares de hectares de florestas, savanas e áreas úmidas destruídas e em relação aos quais não haverá o pagamento de sequer um real de indenização.
Documento relata ainda que o Mutirão da Conciliação Ambiental tem concentrado em um único promotor de Justiça a atribuição de celebrar acordos nas esferas cível e criminal em casos de desmatamento ilegal em todo Estado de Mato Grosso. Tais procedimentos representam a maioria esmagadora dos procedimentos ambientais extrajudiciais das Promotorias de Justiça que tiveram seus procedimentos "avocados" ao Mutirão.
“Quando se fala em mutirão imagina-se uma atuação excepcional, com vistas a finalizar um estoque processual acumulado ao longo dos anos. Contudo, não é isso que temos observado, posto que diversas edições já foram realizadas e outras tantas estão programadas, prevendo-se o deslinde de mais de três mil procedimentos apenas em 2024, fazendo com que a atuação excepcional (mutirão), com a designação de um único membro, se torne uma regra que, nitidamente, afronta o princípio do promotor natural, inclusive, membros que atuam em Promotorias Especializadas Ambientais”.
O grupo relata ainda ser favorável a novas formas de resolução de conflitos, desde que não imponham um retrocesso à proteção ao meio ambiente.
Assim, o documento requer que os membros do Conselho Superior do Ministério Público adotem as providências que entenderem cabíveis para que, quando da análise de promoções de arquivamento de inquéritos civis em decorrência de termos de ajustamento de conduta celebrados no âmbito do Mutirão da Conciliação Ambiental, seja observado o respeito à jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça quanto à matéria, bem como o princípio da reparação in integrum dos danos ambientais.
A fim de que a sociedade civil e o próprio Ministério Público do Estado de Mato Grosso possam conhecer o real impacto ambiental e climático, o grupo de promotores requer ainda informações sobre o total de área desmatada objeto dos procedimentos que integraram cada uma das edições do Mutirão da Conciliação Ambiental já realizadas, e nos quais houve conciliação; o total de área de vegetação nativa ilegalmente desmatada que, em decorrência da tese jurídica adotada no Mutirão da Conciliação Ambiental não será objeto de indenização em pecúnia.
Confira abaixo o posicionamento do MP na íntegra:
MPMT defende acordos firmados nos Mutirões da Conciliação Ambiental e aponta ganhos ao meio ambiente
Os acordos realizados pelo Ministério Público de Mato Grosso durante os Mutirões da Conciliação Ambiental em casos de desmatamento estipulam várias obrigações. Estas incluem a necessidade de indenizar pelos danos ambientais, restaurar a área desmatada em locais protegidos, pagar as multas aplicadas pela SEMA, regularizar o Cadastro Ambiental Rural e efetuar o pagamento para reposição florestal.
Além disso, caso ocorra o não cumprimento das obrigações pelo infrator, será estabelecido um valor fixo para perdas e danos, correspondente ao valor da multa ou ao montante apurado como dano ambiental pelo setor competente do MPMT. Há também um processo de monitoramento para garantir o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Apenas nos casos em que a SEMA verifica que o desmatamento ocorreu em área não protegida e o órgão ambiental aprova a continuação da atividade agropecuária, o pagamento de indenização é dispensado, porém as demais obrigações de regularização e reposição florestal são mantidas. Ou seja, em se tratando de dano em área de reserva legal, área de preservação permanente e em unidades de conservação será sempre devida a indenização.
O direito à proteção ambiental deve ser conciliado com o direito de propriedade e exigir indenização por desmatamento ocorrido em área passível de ser desmatada ofende este direito fundamental.
Cabe ao Ministério Público a intransigente defesa da lei ambiental, mas não dispõe de legitimidade para exigir proteção além do que dispõe a legislação, sob pena de usurpar a função do legislador.
Importante destacar que os Promotores de Justiça possuem independência funcional e podem adotar entendimentos diversos para a proteção ambiental, cabendo ao final ao Poder Judiciário decidir em caráter definitivo. Assim, caso o promotor da comarca onde ocorreu o dano ambiental considere necessárias obrigações adicionais, estas podem ser incluídas no TAC ou as tratativas podem ser conduzidas diretamente nas comarcas.
MINISTÉRIO PÚBLICO DE MATO GROSSO
09.05.24