Após 20 anos, Joilson James Queiroz, preso apontado como um dos pistoleiros envolvidos na “Chacina da Fazenda São João”, ocorrida em 2004, foi condenado pelo Tribunal do Júri a 46 anos, em regime fechado. Juiz que presidiu o julgamento, Jorge Alexandre Martins Ferreira manteve sua prisão. No dia dos homicídios, quatro pescadores foram executados na propriedade do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
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O Conselho de Sentença reconheceu que Joilson James foi o responsável pela autoria dos homicídios de Pedro Francisco da Silva, José Ferreira de Almeira e Areli Manoel de Oliveira, e, com isso, não absolveu o acusado. Além disso, acolheu as qualificadoras de motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas.
Outro ponto levado em conta pelo Júri para aumentar a pena pelos assassinatos foi o fato de que a ordem para afogar os pescadores partiu de Joilson, na condição de gerente da fazenda, aos seus subordinados.
Considerando as graves circunstâncias do crime, cumulada à continuidade delitiva, o juiz calculou a pena definitiva de Joilson em 46 anos de reclusão, em regime inicialmente fechado.
Sobre a manutenção da prisão preventiva do réu, o magistrado citou que ele ficou foragido da Justiça por mais de 20 anos, escondido em localidade entre o Acre e a Bolívia, local conhecido por abrigar foragidos de diversas nações.
Foragido desde 2004, Joilson somente foi capturado pela polícia em fevereiro de 2022, em diligências realizadas em Rio Branco, oportunidade que ele ainda tentou enganar os agentes, se apresentando falsamente como José Ely Queiroz, nome do seu irmão.
Além disso, o próprio réu afirmou em depoimento que se evadiu para aguardar que o crime prescrevesse e, somente após a prescrição, retornaria à Mato Grosso.
Diante dos fatores aptos à manutenção da preventiva, somada à necessidade de garantir a ordem pública e a aplicação da lei penal, o magistrado manteve a prisão de Joilson, negando-lhe o direito de recorrer em liberdade.
O caso
O crime bárbaro foi relatado no processo judicial que culminou nas condenações de vários seguranças da fazenda de Arcanjo. Foram denunciados como executores dos pescadores o gerente do setor de pescas da fazenda, Joilson James Queiroz, e os seguranças Noreci Ferreira Gomes, Valdinei, Evandro Negrão, Édio Gomes Júnior, o “Edinho”, Alderi Souza Ferreira, o "Tocandira", Adeverval José Santos, o “Paraíba”, e Carlos César André, o “Pezão”.
Conforme a denúncia, os seguranças vistoriavam os arredores das represas, devidamente armados, ação que era rotineira e ocorria até às 21 horas. No dia do fato, por volta das 20 horas, o grupo teria se dividido em dois, sendo que cada um foi para um lado da represa.
O segundo grupo localizou as quatro vítimas pescando, surpreendendo-as com disparos de arma de fogo. Itamir foi o primeiro a morrer, já que o disparo de arma de fogo foi fatal. Outro deles acabou atingido no abdômen, mas não foi a óbito na hora.
Após os disparos, os seguranças teriam se reunido para verificarem o que havia ocorrido. As vítimas sobreviventes foram dominadas, tendo mãos e pés amarrados, umas às outras e sob a mira de armas de fogo, momento em que o acusado Edinho telefonou para Joílson, que era um dos administradores da fazenda e narrou o ocorrido da seguinte forma:
"Matamos uma capivara e tem três amarradas, se quiser, traz uma faca para tirar o couro".
Ao tomar conhecimento do fato, Joílson foi até o local com Noreci, e ordenou que os pistoleiros afogassem as vítimas que haviam sobrevivido aos tiros, afirmando que fariam isso para que não deixassem pistas do homicídio que vitimou Itamar.
As vítimas foram amarradas juntas e jogadas na represa, sem darem ouvido aos gritos de clemência dos pescadores. Acrescenta ainda que, no momento em que as vítimas submergiram, buscando meios de saírem da água, eram impedidas pelos acusados Alderi e Evandro.
Após a morte de todos serem constatadas, os seguranças colocaram seus cadáveres em veículo Saveiro e fizeram a desova dos corpos, um a um, na margem da estrada.
Ainda conforme a denúncia, os acusados teriam cometido o crime por haver uma associação entre todos eles para que impedissem a pescaria nas represas da referida fazenda e que aqueles que eram pegos, fossem eles empregados ou não do local, eram submetidos às lesões corporais e até mesmo à morte.