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OCUPANTES INVISÍVEIS

Justiça agenda leilão de fazendas da Boi Gordo com lance inicial de R$ 18 milhões; 500 famílias serão retiradas do local

22 Nov 2017 - 10:44

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Defesa/Associação

Ocupantes das Fazendas

Ocupantes das Fazendas

A Segunda Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Marcelo Sacramone, agendou para o dia 14 de dezembro o leilão judicial das “Fazendas Reunidas Boi Gordo”.  As terras sofrerão desvalorização de 90%, sendo oferecidas ao valor mínimo de R$ 18 milhões, mesmo sendo avaliadas em cerca de R$ 177 milhões.

O imbróglio jurídico decide não apenas as finanças do cadáver comercial e jurídico da Boi Gordo, mas o destino de 500 famílias que ocupam e produzem há 7 anos nas terras. Invisíveis, eles jamais foram parte do processo que tramita em SP. Uma audiência de conciliação foi realizada em Mato Grosso no início deste mês, sem a presença do frigorífico. As famílias tentam demonstrar ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) que possuem capacidade financeira para adquirir as terras.

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"Determino a publicação de novo leilão, com valor mínimo da proposta oferecida nos autos. Caso não sejam dados novos lances, o proponente será dado como vencedor", sentenciou Sacramone.

O leilão judicial será conduzido pelo leiloeiro oficial Cezar Augusto Badolato, da Lut Leilões, encarregada de vender bens e imóveis da massa falida da Boi Gordo. O comprador arrematante deverá pagar em 48h, 20% do valor do lance, mais 4,5% de comissão. O leilão judicial permitirá lances online, o que pode atrair investidores de todo o país.

A venda da terra poderá encerrar sete anos de produção na área, queixa-se a defesa das famílias. Ressalta-se que elas nunca “foram parte no mencionado incidente processual, jamais foram incitadas a participar, apresentar defesa ou qualquer outro ato processual. Sequer tinham informações de que suas áreas estariam inseridas dentro do mapa apresentado pela massa falida das Fazendas Reunidas Boi Gordo”.  

Na tentativa de evitarem as destruições, as associações se reuniram e deliberaram, em 02 de setembro deste ano, que pretendem adquirir títulos para regularizarem suas situações possessórias. Pretendem comprar a área. Tudo o que pedem, neste momento, é uma rodada de conciliação com a Boi Gordo, para que a proposta seja apresentada.

Até o momento, nenhuma resposta.

Boi Gordo:

Criada em 1988, a empresa Fazendas Reunidas Boi Gordo iniciou em 1996 processo de abertura de investimentos em animais. Foram mais de 30 mil pessoas que investiram neste esquema de pirâmide financeira, que pagava contratos vencidos com recursos de novos investidores.

A empresa era administrada por Paulo Roberto de Andrade, que oferecia aos investidores contratos de investimento que prometiam retorno de 42% em 18 meses. Os ganhos viriam tanto da engorda do boi para abate quanto do crescimento de bezerros. Mais tarde descobriu-se que a empresa funcionava como uma pirâmide, pagando os contratos vencidos com o dinheiro da entrada de novos investidores. Os rendimentos oferecidos não refletiam o lucro com a atividade pecuária. Quando os saques superaram os investimentos, a pirâmide desmoronou. 

A notícia de que o negócio não ia bem se espalhou e milhares de clientes resgataram o dinheiro. A Boi Gordo declarou ter 100 mil cabeças de gado no pasto, mas deveria ter pelo menos dez vezes mais, de acordo com os valores recebidos dos investidores. A situação ficou insustentável e, em 2001, entrou em concordata e foi vendida para os grupos Golin e Sperafico no final de 2003, tendo a falência decretada pela Justiça em 2004 e os seus efeitos estendidos para as demais empresas do grupo e para o seu administrador em 2006. 
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