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INSEGURANÇA NO CCC

Quem amedronta Silval? Corréus negam ameaças e envolvem poderosos em trama para calar ex-governador

21 Jun 2017 - 11:15

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Rogério Florentino Pereira/OD

Silval da Cunha Barbosa

Silval da Cunha Barbosa

No mundo do crime, quando um "acordo de cavalheiros" começa a se desfazer, as ameaças veladas tornam-se comuns. Na Sodoma, por exemplo, as tratativas lançaram mão de metáforas pobres como “homem de boca mole vira comida de formiga”, “quem tem c*, tem medo” e “boca fechada não entra formiga”. Quando o acordo se rompe de vez, as ameaças chegam ao nível mais inesperado: atingem seus líderes e toda a organização se desmonta, tornando-se jogo de confissões e lamúrias.

Diz Silval Barbosa: “Em razão de sua nova postura defensiva e de boatos de que estaria negociando colaboração premiada tem se sentido inseguro no interior do cárcere, já que tem sido pressionado por pessoas as quais compromete-se a identificar futuramente".

Em uma trama ainda desconexa, a “Operação Sodoma” revela aos poucos seus mistérios: quem estaria ameaçando o ex-governador do Estado? O que eles temem? 

Olhar Jurídico questionou a defesa dos corréus do ex-governador. A defesa do ex-secretário adjunto de Administração José de Jesus Nunes Cordeiro diz que a resposta é “óbvia”: “não”. Já a do ex-secretário de Estado Marcel Souza de Cursi preferiu jogar a batata quente para o alto lembrando que Silval, enquanto negociava confissão no Centro de Custódia da Capital (CCC), recebeu visitas de deputados estaduais, federais e até de emissários de ministro.

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Silval e Cursi, “os camaradas”:

“Silval e Cursi sempre tiveram um bom relacionamento lá dentro (do CCC), de ‘camaradagem’ inclusive. Sempre que eu conversava com Marcel, o Valber Melo e o Arthur Osti (ex-advogados de Silval) estavam conversando com o ex-governador. A relação era bem cortês, eles faziam piadas e davam risadas. Assim, eu acredito que isso tenha vindo... porque veja, Silval não diz que as ameaças tenham vindo de pessoas presas, mas o fragmento que trata deste tema diz que ele sofreu ameaças dentro do CCC, mas não disse que sofreu ameaças das pessoas que estão lá detidas. Por quê? Porque ele recebeu visita até de emissários de Blairo Maggi (senador e Ministro da Agricultura do governo Michel Temer), recebeu visitas de Wellington Fagundes, de Gilmar Fabris e de outros cinco ou seis deputados menos conhecidos. Todos eles foram visitar ele e quem fez essa pressão? Era o dia inteiro, você iria lá no CCC e a pessoa mais visitada era Silval, eram muitas autoridades”, explicou o advogado de Marcel Souza de Cursi, Marcos Dantas.  

A “óbvia teoria Infundada”:

Questionado se seria o Coronel Cordeiro o responsável pelas ameaças ao ex-governador, o advogado do ex-secretário adjunto nega veementemente. “É óbvio que não. O Coronel responde por uma ameaça supostamente feita um ano e meio antes de sua prisão, por essa razão. Que ameaça dura um ano e meio?”, questionou Vinícius Marinho, que acrescenta. “O Coronel está preso, sem acesso à comunicação, da mesma maneira como imagino tenha ocorrido com o Silval. Como seria possível ameaçá-lo? Enfim, essa teoria, de quem quer que seja, é infundada”.

Revelações Futuras:

Conforme já explicado na decisão da magistrada Selma Rosane Arruda, o ex-governador se comprometeu a identificar "futuramente" as pessoas que o ameaçaram. Elas teriam sido determinantes para que Barbosa realizasse a confissão e, posteriormente, entrasse com pedido pelo direito de cumprir prisão domiciliar. Segundo ele, existe um clima de ‘insegurança’ no Centro de Custódia da Capital (CCC), onde estava preso.

Familiares sob ameaça:

O ex-governador passou a contar os crimes cometidos quando ele ainda estava à frente do Executivo Estadual e, além disso, se comprometeu a devolver cerca de R$ 46 milhões em bens.

Segundo Silval, as falsas notícias de delação fizeram com que não só ele mas também muitos de seus familiares sofressem represálias e ameaças que teriam sido feitas por antigos companheiros de corrupção. Além disso, as ameaças também demonstraram a necessidade do ex-governador sair o mais rápido possível da prisão, onde poderia se tornar alvo fácil de muito dos seus inimigos. Teria sido este um fatos determinantes para que Barbosa realizasse a confissão e, posteriormente, entrasse com pedido pelo direito de cumprir prisão domiciliar. Segundo ele, existe um clima de ‘insegurança’ no Centro de Custódia da Capital (CCC), onde está preso.

As Operações e os crimes confessados

Sodoma Primeira Fase

Na primeira fase da operação Sodoma, em setembro de 2015, oito membros da organização foram indiciados pela Polícia Judiciária Civil e sete deles denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE). Os envolvidos responderam por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Entre os indiciados e denunciados estão o ex-governador Silval da Cunha Barbosa e os ex-secretários Pedro Jamil Nadaf e Marcel Souza de Cursi.

Silval Barbosa foi apontado como chefe do esquema criminoso montado para desviar recursos do erário público, com a finalidade de pagar despesas de campanha política de sua reeleição e angariar recursos decorrentes do pagamento de propina. A execução de tarefas específicas foi determinada a pessoas de sua confiança, com acesso direto ao palácio do Governo, entre elas Marcel Souza de Cursi, inicialmente, como secretário adjunto de Receita Pública e posteriormente, nomeado como secretário de Fazenda.

As investigações constataram que a antiga Secretaria de Estado da Indústria e Comércio, Minas e Energia (Sicme), atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (Sedec), concedeu incentivos fiscais, via Prodeic, de forma irregular para empresas.

Segunda Fase

A segunda fase da operação Sodoma, de 11 de março de 2016, cumpriu 11 mandados de buscas e apreensão, cinco mandados de prisão preventiva e cinco de condução coercitiva. Membros da organização criminosa foram investigados quanto à utilização de recursos provenientes do pagamento de propina e lavagem de dinheiro.

Tiveram mandados de prisão cumpridos os ex-secretários  Pedro Jamil Nadaf (Indústria e Comércio), Marcel Sousa de Cursi (Fazenda), ambos presos na primeira fase; o ex-secretário César Roberto Zílio (Administração); o empresário Willian Paulo Mischur (Consignum – empresa de empréstimo consignado para servidores públicos); e Karla Cecília de Oliveira Cintra, assessora direta de Pedro Nadaf, que na primeira fase da operação Sodoma teve medida cautelar decretada para uso de tornozeleira eletrônica e depois, foi expedida ordem de prisão.
 
Terceira fase

Deflagrada no dia 22 de março de 2016, a terceira fase da Operação Sodoma teve como alvo novamente  o ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, o ex-secretário de Administração na gestão anterior, Pedro Elias Domingos de Mello e o ex-chefe de gabinete do governador Silval Barbosa, Silvio César Corrêa de Araújo. Um mandado de busca e apreensão domiciliar foi cumprido em desfavor de Pedro Elias.  A terceira fase da operação Sodoma foi consequência da Sodoma 2, que apurou a suspeita de pagamentos de propina em contratos celebrados com o governo do Estado na gestão de 2010 a 2014.

Quarta Fase

O foco da Quarta fase da Operação Sodoma, desencadeada no dia 26 de setembro de 2016,  foi o desvio de dinheiro público realizado por meio de uma das três desapropriações milionárias pagas pelo governo Silval Barbosa durante o ano de 2014.

O ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, teve novamente uma prisão preventiva cumprida, além de Marcel De Cursi, Arnaldo Alves, Silvio César Corrêa Araújo e Valdir Piran. Para prestarem interrogatórios, foram conduzidos coercitivamente Valdir Piran Junior, Eronir Alexandre, Marcelo Malouf, José Mikael Malouf, Willian Soares Teixeira, além do cumprimento de buscas e apreensão em residências e empresas dos investigados.

Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, procurador de Estado aposentado, foi preso por mandado de prisão preventiva no Rio  de Janeiro (RJ), por policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). Os investigados Valdir Piran e Arnaldo Alves tiveram os mandados de prisão cumpridos em Brasília, com apoio da Polínter do Distrito Federal.

As diligências realizadas evidenciaram que o pagamento da desapropriação do imóvel conhecido por Jardim Liberdade, localizado nas imediações do Bairro Osmar Cabral, na capital, no valor total de R$ 31.715.000,00 à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários Ltda, proprietária do imóvel, se deu pelo propósito específico de desviar dinheiro público do Estado de Mato Grosso em benefício da organização criminosa liderada pelo ex-governador Silval da Cunha Barbosa.

Ficou comprovado na investigação que, além de Silval Barbosa, participaram da fraude Pedro Jamil Nadaf (ex-secretario chefe da Casa Civil), Francisco Gomes de Andrade Lima Filho (procurador de Estado aposentado), Marcel de Cursi (ex-secretario de fazenda), Arnaldo Alves De Souza Neto (ex-secretario de planejamento), Afonso Dalberto (ex-presidente do Intermat), além do proprietário do imóvel Antonio Rodrigues Carvalho, seu advogado Levi Machado, o operador financeiro do grupo criminoso, Filinto Muller, e os empresários Valdir Piran e Valdir Piran Junior, pai e filho.

De todo o valor pago pelo Estado pela desapropriação, metade, ou seja, R$ 15.857.000,00 retornaram via empresa SF Assessoria e Organização de Eventos, de Propriedade de Filinto Muller em prol do grupo criminoso.

De acordo com a investigação, a maior parte do dinheiro desviado no montante de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) pertencia a Silval Barbosa, ao passo que o remanescente foi dividido entre os demais participantes, no caso Pedro Nadaf, Marcel De Cursi, Arnaldo Alves de Souza Neto, Afonso Dalberto e Chico Lima.

Além de diversas colaborações premiadas, confissões e análise documental que auxiliaram a desvendar todo o ‘modus operandi’  do esquema milionário de desvio de dinheiro público, a prova material obtida com os afastamentos de sigilos bancários e fiscal corroboraram a participação de todos os envolvidos, não deixando quaisquer dúvidas quanto às suas respectivas atuações neste esquema criminoso.

Quinta fase

A Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso deflagrou, no dia 14 de fevereiro de 2017, a 5ª fase da Operação Sodoma. A ação investiga fraudes à licitação, desvio de dinheiro público e pagamento de propinas, realizados pelos representantes da empresa Marmeleiro Auto Posto LTDA e Saga Comércio Serviço Tecnológico e Informática  LTDA, em benefício da organização criminosa comandada pelo ex-governador, Silval da Cunha Barbosa.

A investigação, presidida pela Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz), cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, nove de condução coercitiva e nove de busca e apreensão domiciliar, nos estados de Mato Grosso, Santa Catariana e Distrito Federal. Participam da operação 17 equipes de policiais civis, compostas por delegados, investigadores e escrivães.
Os mandados de prisão foram cumpridos contra os investigados Valdisio Juliano Viriato, Francisco Anis Faiad, Silval da Cunha Barbosa, Sílvio César Corrêa Araújo, José Jesus Nunes Cordeiro. Entre os conduzidos de forma coercitiva para interrogatórios, estão Wilson Luiz Soares, Mario Balbino Lemes Junior, Rafael Yamada Torres e Marcel Souza de Cursi.

Os suspeitos são investigados em fraudes à licitação, corrupção, peculato e organização criminosa em contratos celebrados entre as empresas Marmeleiro Auto Posto LTDA e Saga Comércio Serviço Tecnológico e Informática  LTDA, nos anos de 2011 a 2014, com o Governo do Estado de Mato Grosso.

Segundo a Polícia Civil apurou, as empresas foram utilizadas pela organização criminosa, investigada na operação Sodoma, para desvios de recursos públicos e recebimento de vantagens indevidas, utilizando-se de duas importantes secretarias, a antiga Secretaria de Administração (SAD) e a Secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana  (Septu), antiga Secretaria de Infraestrutura e Logística (Sinfra).

As duas empresas, juntas, receberam aproximadamente R$ 300 milhões, entre os anos 2011 a 2014, do Estado de Mato Grosso, em licitações fraudadas. Com o dinheiro desviado, efetuaram pagamento de propinas em benefício da organização criminosa no montante estimado em mais de R$ 7 milhões.
 
Operação Seven

A operação Seven, desencadeada no dia 1 de fevereiro de 2016 pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), resultou no cumprimento de pedido de prisão contra o ex-governador do Estado, Silval da Cunha Barbosa, e do ex-chefe da casa civil Pedro Jamil Nadaf. Foram também decretadas pela Justiça a prisão preventiva do ex-Presidente do Intermat, Afonso Dalberto, e do Coronel José de Jesus Nunes Cordeiro (ex Secretário Adjunto da antiga SAD). 

O médico Filinto Correa da Costa, de 73 anos, também foi alvo de mandado de busca e apreensão e teve decretado pela Justiça o uso de tornozeleiras eletrônicas. Filinto era o proprietário da área que teria sido comprada duas vezes pelo Governo do Estado de Mato Grosso. 

De acordo com o Gaeco, no ano de 2002, o empresário negociou com o Governo do Estado uma área de aproximadamente 3,240 hectares pelo valor de R$1,8 milhões. Ocorre que, no ano de 2014, 727,931 hectares dessa mesma área foram novamente vendidas ao Governo, dessa vez pelo valor de R$7 milhões. 

Para dar legitimidade a transação, o ex -governador, contrariando dispositivos legais expressos, transformou a unidade de conservação do tipo “parque” em unidade de conservação do tipo “Estação Ecológica”. Nesses casos a legislação federal não exige a realização de estudos técnicos ou audiências públicas. O esquema contou com a participação do ex secretário da Casa Civil e do ex presidente do Intermat. 

Além dos mandados de busca e apreensão e prisões, também foram realizadas nesta segunda-feira conduções coercitivas ao Gaeco de dois servidores da Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Os dois foram responsáveis pela elaboração de pareceres favoráveis a manobra e da minuta de decreto. 
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