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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Direito Holístico: um novo olhar para a advocacia

Autor: Isabel Cristina Melón de Souza Neves

02 Abr 2021 - 08:00



Nas palavras de Marcos Wunderlich, “Holismo vem da palavra holos do grego clássico e significa inteiro, completo, global, o todo. Holismo é uma forma de se ver a si mesmo e de ver o mundo e todos os seres de uma forma global, como um todo, onde tudo está interligado, onde nada é isolado, tudo pulsa simultaneamente, onde o todo está presente em cada parte. Não existe nada desligado, isolado”.

Assim, o holismo propõe um olhar diferenciado e sob novas perspectivas, passando-se a sentir a realidade como um todo, possibilitando uma visão panorâmica dos fatos e, principalmente, uma compreensão melhor das pessoas com quem convivemos. Manter uma visão fragmentada dos fatos, com uma visão que é incapaz de enxergar o Todo, não auxilia em nada a convivência, desfavorecendo inclusive o diálogo.

Fala-se muito ultimamente em Sistema, inclusive no Direito. Essa visão sistêmica possibilita a observação dos fragmentos e suas interligações e seus detalhamentos; contudo difere do que apregoo como a melhor visão a ser utilizada no âmbito do Direito: a visão holística.

Digo isso porque nós advogados precisamos ampliar nossa intuição e percepção, permitindo que a emoção e sensibilidade fluam. E isso é fundamental para a solução de conflitos por meio do diálogo.

Então, o que é e o que significa a visão holística no Direito?

Não, não é filosofia, ou religião ou uma ciência nova. Como já mencionado, é tudo aquilo capaz de possibilitar uma melhor compreensão entre o Universo e todos que dele fazem parte. É algo capaz de juntar os fragmentos, os pedacinhos existentes no mundo, tornando possível uma visão mais ampla do todo, com a finalidade de solucionar as dores do mundo.

No caso do Direito, esse pensamento de vanguarda tem de fazer parte da nova Advocacia, pois a melhor sentença é o acordo entre as partes. No Direito não poderia ser diferente. Essa visão ampla, sistêmica/holística, permite a evolução, capaz de preparar os advogados para o futuro, para uma nova forma de advogar que vai muito mais além. A bem da verdade, este novo olhar holístico está vindo para revolucionar, pois coloca o homem no centro, não só de seus direitos, mas também enquanto indivíduo e como parte da coletividade.

Como então se preparar para advogar nesse novo mundo em que estamos vivendo?

A resposta está na criatividade, na inovação, na colaboração e na autorresponsabilidade.

Estamos a falar de uma nova forma de ver a advocacia, pois, nós advogados somos indispensáveis à administração da Justiça, exercendo uma função social.

Como negar a visão holística ao Direito e à Advocacia, se a própria Constituição Brasileira assim se refere ao falar em Justiça e Função Social?

Em resumo, nós advogados precisamos desenvolver o espírito empreendedor, sua preocupação com o indivíduo como um “todo”, procurando colaborar para a preservação do bem da vida, ou seja, o centro do problema que estiver em pauta. Vivemos uma nova Sociedade, o que torna essencial para os advogados a adequação, a adaptação, a transformação, a ideia de que negociar é possível, a preocupação com o diálogo, empatia, usando todas as ferramentas possíveis para alcançar um diagnóstico para a controvérsia, possibilitando descobrir soluções criativas, inclusive o desenvolvimento de acordos racionais, inteligentes e sustentáveis no mais amplo sentido.

A nova Advocacia precisa ser pensada “fora da caixa”, na busca de diferentes opções para a solução dos conflitos, principalmente dos caminhos oferecidos pelo Judiciário. Para tanto, tem-se à disposição da Nova Advocacia os métodos adequados de resolução de conflitos, tais como a Mediação, as Práticas Colaborativas, a Conciliação, a Negociação, dentre outros, reconhecendo que acesso a uma solução equilibrada não se dá apenas pelo Poder Judiciário.

Precisamos de um novo perfil para uma nova sociedade. Tudo está sempre em movimento e precisamos nos movimentar, senão pereceremos.

E a hora é agora! Nova sociedade, novos tempos, novos Operadores do Direito. Mesmo receosos pelas grandes mudanças que estão a ocorrer no Mundo, precisamos esquecer das armas, focando no nosso autoconhecimento em primeiro lugar. Saber sobre as nossas emoções é fundamental para lidar com as emoções de terceiros.

William Ury, em seu bestseller “Como chegar ao Sim”, afirma que nos momentos de turbulência, de desespero devemos, figurativamente, ir para o “balcony” (sacada).

Como assim? Precisamos nos afastar das crises para que possamos analisar, perceber e refletir.

Nesta nova advocacia, a capacidade postulatória do advogado luta pela recomposição, não só das relações sob o prisma jurídico, mas da manutenção das relações pessoais, estimulando o diálogo entre as partes, auxiliando inclusive no enxugamento da máquina judiciária.

Assim, essa nova Advocacia visa à inovação, trazendo soluções rápidas, menos onerosas e mantenedoras da paz, apresentando à sociedade novas formas para a solução dos conflitos, sem a necessidade de se buscar a tutela junto ao Poder Judiciário. E isso é hoje muito relevante, principalmente em razão da pandemia global (Covid-19). Tudo, de fato, é sistêmico.

É hora de mostrar que estamos prontos para enfrentar os desafios, principalmente os trazidos pela pandemia, sendo mais criativos, inovadores, colaborativos e autorresponsáveis.

Por fim, o novo advogado na nova Advocacia entende a importância dos Métodos Adequados de Resolução de Conflitos (Métodos de Pazeamento), pois, com empatia, cria caminhos não litigantes, proporcionando o diálogo e a negociação entre as pessoas envolvidas no conflito, com transparência, ética e lisura, buscando de fato e de direito preservar, o máximo possível, o Bem da Vida.







Drª Isabel Cristina Melón de Souza Neves Advogada Colaborativa Membro da Comissão de Mediação, Arbitragem e Práticas Restaurativas e da Comissão de Práticas Colaborativas da Associação Brasileira de Advogados – ABA/MT
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