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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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MORTO POR COLEGA

PMs dizem que Scheifer não demonstrava insatisfação com cabo por morte de membro de quadrilha

Foto: Rogério Florentino / OD / Reprodução

PMs dizem que Scheifer não demonstrava insatisfação com cabo por morte de membro de quadrilha
Os policiais militares Daniel Ortega e Maciel Alves, que atuaram em uma operação juntamente com o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) no dia em que o tenente Carlos Henrique Scheifer foi assassinado, afirmaram que o tenente não aparentava estar descontente com o assassinato de Marconi Souza Santos, alvejado pelo cabo da PM Lucélio Gomes Jacinto.
 
A tese do Ministério Público é que Scheifer teria desaprovado a conduta que levou à morte de Marconi e por isso os réus teriam planejado sua morte, para evitar que fossem denunciados por desvio de conduta. Scheifer foi morto por um tiro que saiu da arma de Jacinto. Ortega e Alves foram ouvidos na audiência desta segunda-feira (17).
 
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O 3º sargento PM Maciel Alves da Conceição e o soldado PM Daniel Ortega Zanatta, que atuam na região onde ocorreram os crimes, participaram da operação que resultou na morte de Marconi desde o início. Marconi era integrante de uma quadrilha de roubos a banco, especializada na modalidade novo cangaço, e a equipe de Scheifer teria ido até Peixoto de Azevedo para combatê-los.
 
O soldado Daniel disse que recebeu informações sobre um confronto entre a PM e membros da quadrilha, no distrito de União do Norte, e que um veículo teria foragido do local. A equipe dele e do sargento Alves se deslocavam em direção a Peixoto de Azevedo quando visualizaram uma camionete com as mesmas características da que tinha foragido do tal confronto.
 
Ao se aproximarem viram a atitude suspeita do abordado e acabaram descobrindo que  ele seria integrante da quadrilha. Eles informaram a equipe do Bope, liderada por Scheifer, que já havia chegado à região, e então foram à residência apontada pelo suspeito. Quando chegaram ao local eles se dividiram.

“Eu fui no portão pequeno, o Bope foi também, passou por mim. Foram três deles, e um subiu com o Ortega na rua”, disse o sargento Alves. “Foi muito rápido, escutei disparo de arma de fogo, e depois alguém gritar ‘cuidado que eles estão com fuzil’”, disse o soldado Ortega.
 
Ortega chegou a ver Marconi tentando pular um muro, mas ao ver o policial o suspeito desistiu e correu para tentar pular por outro lugar. Ao ver Marconi o soldado Ortega se escondeu atrás de um poste e ficou cuidando do perímetro.
 
Passado alguns instantes ele ouviu vozes, e logo em seguida o disparo de arma de fogo. Segundos depois foi verificar e viu, à distância, um corpo ao solo, que não era de um policial. Ele então foi para a frente da casa e viu os suspeitos detidos.

O sargento disse que Scheifer fez a varredura do local e depois viu Marconi alvejado. “Eu perguntei quem tinha alvejado e tenente disse que foi o cabo Jacinto”, disse o policial.
 
Viaturas de apoio chegaram ao local e depois todos se encaminharam ao quartel, para fazer o registro da ocorrência. Neste momento Scheifer teria parabenizado a equipe de Alves e Ortega pela abordagem à camionete.
 
“A guarnição do Bope estava lá, na tensão. O tenente chamou todo mundo na sala e parabenizou a abordagem à camionete. Nisso eles almoçaram rápido e desceram para União do Norte, onde foi encontrada a camionete na mata, abandonada, no dia anterior” disse o soldado.

De acordo com o sargento e com o soldado, Scheifer não parecia insatisfeito com o resultado da operação que culminou na morte de Marconi. Segundo Ortega, ele parecia eufórico, até mesmo alegre.
 
“Ele estava eufórico, colocou a máscara de caveira, tirou fotos, conversou entre eles e depois parabenizou a gente, aí almoçaram rápido e foram para a mata”, disse o militar.
 
Esta informação vai de encontro com a tese do Ministério Público, de que Scheifer teria ficado insatisfeito com a conduta de Jacinto, por ter matado Marconi, que supostamente estaria desarmado.
 
O promotor Allan do Ó, do Ministério Público, disse estar convencido de que os policiais militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim e Werney Cavalcante Jovino planejaram a morte de Scheifer, pois o tenente teria desaprovado a abordagem que levou à morte Marconi.
 
Em audiência anterior, testemunhas de acusação disseram que Scheifer não teria aprovado aquela atuação de seus comandados, e que Jacinto ainda teria reclamado com um colega que “este tenente é muito legalista”.
 
Ainda disseram que em determinado momento, no hospital onde Scheifer foi atendido, os três teriam ido sozinhos a uma sala, onde conversaram, chegando inclusive a afastar um policial que tentou se aproximar.
 
A motivação do crime, conforme o MPMT, foi evitar que a vítima adotasse medidas contra os denunciados que pudessem resultar em responsabilização e, até mesmo eventual  perda da farda, por desvio de conduta.
 
Em seus depoimentos, o sargento Alves e o soldado Ortega ainda disseram que no hospital, ao aguardarem notícias sobre o estado de saúde de Scheifer, os três réus pareciam aflitos e emocionados.
 
A equipe dos dois foi quem escoltou a viatura onde estava Scheifer até o hospital. Ortega disse ter visto Scheifer ser levado para dentro do hospital, e que ele não aparentava estar vivo.
 
“Quando fomos informados [do ferimento], fomos encontrá-los pra guiá-los ao hospital. Vi até de longe a perfuração, não tinha sangue, tinha um pouco do intestino para fora, estava desacordado, uns 20 minutos depois veio a notícia”, disse o soldado.
 
Os policiais contaram que ficaram separados dos oficiais do Bope, torcendo pela vida do tenente. Em determinado momento um policial sugeriu que fizessem uma roda de oração, da qual Jacinto, Jovino e Lopes também participaram. Os três réus ainda devem ser ouvidos pela Justiça.
 
Os relatos
 
As cinco testemunhas ouvidas no último mês de abril relataram o cenário em que se deu a morte de Scheifer. A equipe do Bope, integrada pelos militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim, Werney Cavalcante Jovino e chefiada por Carlos Henrique Scheifer, teria ido ao distrito de União do Norte, próximo a Peixoto do Azevedo (695 km de Cuiabá), em maio de 2017, para atuar em uma operação contra uma quadrilha de roubos a banco, na modalidade novo cangaço.
 
De acordo com os relatos, a equipe de Scheifer foi de aeronave até a localidade e pouco depois que chegou teria recebido informações, de um suspeito que foi abordado em um posto de gasolina, sobre o local onde estariam alguns dos membros da quadrilha.
 
A equipe de Scheifer teria ido até esta residência informada e lá teriam realizado a abordagem que resultou na morte de Marconi Souza Santos, isso por volta do meio-dia. Jacinto teria sido o autor do disparo que matou Marconi, justificando que o suspeito estaria armado.
 
Segundo o tenente Herbe Rodrigues da Silva, que testemunhou, uma arma foi encontrada do lado de dentro da casa, nos fundos, enquanto o corpo de Marconi teria sido encontrado do outro lado do muro, fora da propriedade. Herbe disse que ele próprio entregou a arma a Scheifer.
 
Outras equipes da Polícia Militar, de regiões próximas, foram acionadas para dar apoio a esta operação. O soldado Vizentin, que auxiliava no recolhimento dos materiais abordados, disse à Justiça que teria visto o cabo Jacinto andando de um lado para o outro, nervoso, e dizendo “este tenente é muito legalista”, se referindo a Scheifer.
 
Os policiais localizaram um veículo, que seria dos suspeitos, que foi abandonado em uma região de mata. Já no período da tarde, a equipe do tenente-coronel Jonas Puziol foi juntamente com a equipe de Scheifer até o local onde estava o veículo, e lá Scheifer teria pedido a ele que fosse embora do local e levasse a viatura do Bope, na tentativa de simular para os bandidos que a polícia teria deixado o local.
 
Momentos mais tarde os policiais da região começaram a receber por rádio a informação de que um policiai estava ferido, e pediam informações sobre o hospital mais próximo. De acordo com as testemunhas, Scheifer teria chegado ainda com vida ao hospital, em Matupá, mas logo veio a óbito.
 
Em seu depoimento o sargento Antônio João da Silva Ribeiro teria dito que, no hospital, os três membros do Bope teriam ido sozinhos a uma sala, onde conversaram. Ele disse que os três aparentavam estar abalados, mas quando tentou se aproximar, para saber como se deu a morte de Scheifer, Jacinto teria dito para que ele se afastasse.
 
Os integrantes do Bope então teriam inventado a versão de que Scheifer teria morrido pelo tiro de um suspeito, o que foi desmentido depois pela perícia. Os policiais militares ouvidos ainda relataram que eram impedidos de ir ao local onde Scheifer morreu, por outros membros do Bope que já estavam no local, por que seria uma região de risco. Os militares que foram ouvidos ontem também disseram que desde o início desconfiavam da versão dada pelos três policiais do Bope.
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