Em Colniza
Delegado preso acusado de tortura tem prisão revogada
19 Out 2018 - 15:50
Da Redação - Carlos Gustavo Dorileo
Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto
O desembargador Luis Ferreira da Silva, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) revogou a prisão preventiva do delegado Edson Ricardo Pick na tarde desta sexta-feira (19). Ele havia sido detido no início da semana pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) acusado de torturar presos na delegacia que comanda, no município de Colniza.
Na decisão, o magistrado entendeu que o Ministério Público Estadual (MPE) não ouviu os policiais e abriu o inquérito apenas com base em declarações das supostas vítimas que relataram ser torturadas pelo delegado e outros policiais civis após serem detidas.
“No entanto, na espécie, não se pode perder de vista que o Ministério Público instaurou um procedimento investigativo criminal com base nas declarações das supostas vítimas. E, ao que tudo indica, deixou de colher o depoimento do paciente e dos outros dois investigados, limitando-se seu presentante a mandar um ofício ao paciente solicitando informações acerca da suposta vítima Victor Silva Oliveira, solicitação, essa, que foi atendida pelo paciente que, em resposta,das circunstâncias da prisão justificou que teria cumprido uma ordem busca e apreensão e que as lesões causadas teriam sido por conta do uso moderado de técnicas de imobilização pessoal em decorrência do fato do menor infrator ter tentado fugir no momento da abordagem policial,aliados ao fato de este estar bastante agitado e agressivo com a presença dos agentes policiais”, diz um trecho.
Denúncia
O documento, obtido pelo Olhar Jurídico, relata que durante audiência de custódia, o preso Marcelo Wypychovosky relatou que foi vítima de agressões, o que teria sido confirmado pela sua esposa, que também foi detida em flagrante na ocasião. O preso conta que o investigador Kester lhe agrediu com socos, o que teria sido presenciado pelo delegado Edison Pick.
“Me colocou na cadeira e começou a me espancar com murros e joelhadas, causando-me intenso sofrimento físico e psicológico, pois o falava que se eu abrisse a boca, iria morrer”, diz trecho do depoimento. Além disto, o preso ainda comentou que já teria sido agredido em outubro do ano passado, dentro da sua casa e na frente da esposa.
Quando retornou ao presídio, o detento relatou as agressões e o diretor o encaminhou para fazer o exame de corpo de delito. O diretor da cadeia público e dois agentes penitenciários confirmaram o depoimento e também os hematomas presentes em Marcelo.
Conforme a denúncia, as agressões descritas no depoimento do preso e das testemunhas são compatíveis com as lesões apontadas no exame de corpo de delito.
Tortura a adolescente
O outro caso aconteceu com o adolescente V.S.O.. Ele relatou que o investigador Kester e outros policiais civis, com a participação do delegado Edison Pick, desferiram socos, tapas, chutes na costela e “seguraram o ofendido pelo cabelo, além de colocarem uma sacola na cabeça deste, com o fito de asfixiá-lo, tal como retratado no popular filme ‘Tropa de Elite’”.
O adolescente estaria algemado no momento das agressões. A tortura estaria sendo praticada com a finalidade de que ele informasse a existência de novas drogas e supostamente uma pistola que estaria com ele. Por fim, os policiais teriam o ameaçado e disseram que matariam todos se houvesse denúncia.
As agressões teriam sido confirmadas pelos tios do adolescente.
Pediu para morrer
Em outro caso, o preso Wesley Gama Oliveira contou em audiência de custódia que teria sido asfixiado com uma sacola, nos mesmos moldes do que aconteceu com o adolescente. Wesley teria sido pego nu dentro de sua casa, que teria sido invadida pelos policiais: “Foi o delegado, ele me ameaçou de morte, ele é meio baixo, meio zarolho. Colocou uma sacola sete vezes na minha cabeça e minha esposa presenciou tudo”.
“Um policial grandão me bateu, ele é alto, careca. (...) Eles foram em quatro. O delegado e ele quase me mataram. (...) No momento do exame de corpo de delito, tinha um policial, então não tinha como falar para o médico. (...) Os outros dois eram uma policial morena e o investigador Kester. Minha esposa presenciou tudo”, disse Wesley em depoimento.
Durante interrogatório, a esposa de Wesley confirmou ter presenciado as agressões. O preso teria inclusive pedido para que “os policiais o matassem logo, em razão do sofrimento que lhe era, em tese, impingindo”.
Por conta disto, foi pedida a prisão preventiva do delegado e dos dois investigadores. Os mandados foram cumpridos na manhã desta segunda-feira, em Colniza.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui
Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
Comentários no Facebook